domingo, 19 de outubro de 2014

Uma carta para...

Acho que essa é a primeira carta alegre que eu escrevo...

Chove. Ao som de Janis Joplin o cheiro do cimento e da arruda, felizes pela chuva que a muito não aparecia por aqui!A primeira chuva nessa janela, uma imensa porta de vidro, uma rede e um céu. Quem diria!!!As coisas tem mudado em muito pouco tempo e pela primeira vez a solidão do eco da sala. Um quintal maior que o quarto, uma vista mais alta que a da cama. Muitas pessoas se foram e eu sempre sofri muito com a ausência delas. Estou aprendendo assentar o peso no peito e seguir em frente. Saudade de poesia, dos romances, de aceitar o ócio sem ansiedade. Acho que quando aceito o ócio eu escrevo, ou pinto. Tem músicas que combinam com isso, outras não. Aprendendo a escolher a música, tem vez que o bicho come o buraquinho dos meus olhos, eles caem e sofrem. Essa música faz carinho nesse bicho e o prazer dele se torna o meu, ou seja, aprendi a ter prazer mesmo carregando os buracos dos bichinhos que deixam os olhos sofridos. Aprendi a conviver com isso. Conviver muitas vezes tem um "Q" de comodismo, mas, vez ou outra conviver é o que faz o corpo continuar acordando. Saudade da Amelie Poulin de L'Absente, dos escritos na água viva da Clarice, do arroz na churrasqueira, da garrafa de vinho quase caindo do palco, da banda, das reuniões na casa da Luiza, da gente brincando de bruxa, dos sorrisos rotos das ruas de Diamantina, da foto da gente pelado na cama, de você me apresentando Nietzsche, dos ensaios de domingo na sala preta, do Seven Boys abarrotado de Lars Von Trier, da gente lendo o mesmo livro nos nossos quartinhos pequenos cheios de aleluia. Tanta coisa. Tantas coisas em tantas janelas. Eu vi muita chuva caindo de janelas pequenas, e grandes, e enormes, e minúsculas e médias. Quantos cigarros eu fumei até hoje? Deveria ter feito essas contas!Deveria ter cuidado um pouco mais da minha rejeição, no posto de alguém que tenta viver o amor. Devia ter cuidado dos abismos, porque depois eles se emendam em solidões tão complexas que fica difícil querer. "Mas, às vezes, é precisamente porque o amor é tão forte, que nós não somos fortes o sufuciente". Van Gogh, chove!Chove como no início.

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