sábado, 23 de maio de 2015

Pequenas árvores

Descobriram os muros da minha garganta. Chafurdada no lodo grosso do dia a dia, esperando que caia do céu uma nuvem, lhe carregue pra bem longe dos pedaços gosmentos do verde musgo. Estarrecida. Pensei que seria. Me sinto tao velha pra tudo. Preciso parar de fumar. Diminuir os cigarros e as gotas. Meus cabelos andam raivosos, as pernas gordas e flácidas arrastam a coluna torta e seu cupim. Meu peto pesa, ele é grande demais, 46 o sutiã.  As vezes compro os de mulheres grávidas, são mais firmes. Eu só quero deitar um poucos. Ficar quieta dentro das minhas subjetivações, meus traumas, minhas varizes. Me deixe quieta que eu morro aos poucos. Quero voltar a desenhar. Tenho 46 personagens, cada dia eu sou um deles, as vezes aparecem até 5 no mesmo dia, é uma festa! Eles me ajudam a me imaginar quem sou, quem sabe um dia aparece alguém, olhe dentro dos meus olhos e diga: Eu sou você! Que coisa mais brega. Prefiro os 46 brigando pra ocupar seu lugar, todos merecem. Eles são tão diferentes uns dos outros, estrangeiros do mesmo corpo. Eu criei cidades pra eles, imensas cidades vivendo dentro de mundos enormes, galáxias infinitas. Eu sou tão pequenas, as vezes me acho gorda. Irresponsável. O problema é a monotonia. Eu preciso criar uma peça, com meus 46 personagens, todos em cena ao mesmo tempo, seria psicodélico se isso acontecesse. Imagina só?! Um estouro! Meu corpo não aguenta. Plantei minhas pequenas árvores.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Divagação entorno....

Penso que um dia vai chegar o momento em que a arte se tornará mais um elemento integrado ao sistema biopolítico. Uma fábrica de produções saudáveis para manter a vida funcionando perfeitamente bem. Nada de grandes intensidades ou insanidades insólitas. Nada de vida ou morte, mas produções cegas e insensíveis sobre a metodologia na qual se deve pautar a criação. As estrelas explodem em nossas cabeças produzindo tanta energia que o "artista" não significa absolutamente nada em meio a produção em serie e uma sociedade faminta de humanidade. Precisamos morrer por dentro, destruir essa linha que foi criada, a lógica do sucesso obsoleto e do amor como produto.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Sobre o Holocausto

Zona cinzenta

O limite entre o meu testemunho e a verdade. Entre a minha culpa e a minha responsabilidade. Entre o que fiz e deixei de fazer. Entre o que eu sou e a minha imagem. Entre a faca e o corpo. Entre o desejo e o limite. Entre oprimido e opressor, ou vice-versa.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Eu por mim

Eu gosto de escrever.
Quando me leio as palavras me apresentam a mim mesma.
Escrevo pra não perder o rumo das coisas.
As vezes faço teatro pra isso, as vezes não.

Para Samuel Sudré

... que não deixa de achar que eu nunca sou importante. E me lê! Em dias inesperados e por horas que eu nem sei porque.





Te amo.

Uma barata poeta

Queria tatuar duas frases do Manoel de Barros:

- Perder a inteligência das coisas para vê-las
- Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se

Hoje fui apresentada a um álbum tão qualquer coisa que eu não saberia dizer o que é.
Me sinto como aquelas pequenas teclas deslizando o contato com alguma coisa desconhecida.
Abandonei a poesia pelo simples medo de perdê-la. Ela me veio em horas de tanto desespero que perdê-la me deixaria mais perto da morte.
Nesse instante me consumi de novo.
Como a brasa do cigarro.
Como a fumaça do cachimbo.
Como a fina areia branca derretendo em sangue meu nariz.
Tenho me apaixonado tão pouco.
Deslizes, Manoel de Barros. Deslizes. Pequenos deslizes se alimentando do meu osso. Eu me sustento como? A carne é fraca!!!!A alma é pior ainda.
Agradeço a Deus que alma não precisa de osso.
Mas, eles doem.
Meu corpo pesa.
Minha cabeça não aguenta tanto corpo.
O peito se afunda um pouco, é de la daquele fundo onde se pode ver as arestas. Os curumichos. Os dragões. Uma poesia barata. Uma barata que almeja ser poeta.
Escorreguei pra dentro.
Sem osso pra segurar.
Não posso perder o desejo.
Não posso perder o desejo.
Não posso perder o desejo.
Perder as palavras pra me mostrar.
Perder-se um pouco pra tentar ser pluma.
Se enfiar com a cabeça pra dentro dessas coisas que ainda não sei onde ficam.
Me importar de menos.
Não saber é saber tudo.
Um corredor, uma janela e nenhuma porta.
A vista é alta demais. E o medo, as vezes, só as vezes, é pequeno.
Tem hora que prefiro medo grande. Tem hora que prefiro medo nenhum.
A gente não escolhe.
Ele vem ou não.
Ele vem ou não?
A espera desliga a surpresa.
Desliguei as luzes da casa, será que a surpresa me acha?
Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho...
Sempre achei bonito dizer: J-U-N-H-O
Junto.
Pego.
Apego.
Perdi o fio que segurava a coluna em pé.
Meus pés pesam dentro de mim.
Oco.
Oco.
Oco.
Tão barata essa menina.
Um barato.
Uma barata poeta.




segunda-feira, 11 de maio de 2015

Estado de sítio

Acordei com uma chuva fina. Demorei sair da cama. Dias longos, necessidades cruéis. Chorei um pouco. Comprei cenoura e couve, deve ser anemia. Fumei meu cigarro. Separei alguns livros do Agamben pra ler. Os estudos seguram meu bom humor, os estudos ou as rezas, as velas, as crenças. Cotidiano insuportável. Cotidiano seco. Odeio o cotidiano. Queria ficar pelas bandas de tchapas pra sempre, renova a fé.

O que resta de Auschwitz? Resta um medo do ponto em que podemos chegar.

domingo, 10 de maio de 2015

Podre

Cansei do mundo.
Cansei das pessoas.
Eu não consigo viver em sociedade.
Eu não consigo achar graça nas coisas.
Eu não consigo me enfiar na multidão.
Eu sinto dores no meu peito, na minha vida, na minha cara.
Os ombros pesam toneladas, e aquela imbecil historia de almas me fez perder a crença.
Meu olho inchado.
Peso.
Pessoas.
As pessoas me cansam.
O mundo me cansa.
As vezes penso em cair fora daqui.
Dar uma chance pra depois da morte, ninguém sabe como é.
As vezes fico quieta, cada vez mais quieta. Não consigo suportar o mundo.
As espectativas.
Os frustrações.
Essas são suportáveis.
Não consigo suportar pessoas.
Pessoas de ego pesado, aquelas que se protegem de tudo e de todos dentro de uma pequena máscara social, intelectual, discursos vazios, necessidades compradas.
O ser humano é podre por excelência.
Uns mais, outros menos.
A tentativa na terra é única e exclusivamente a de ser menos imbecil.
As vezes eu viro um monstro. E dói. Dói cada centímetro da decepção, da frustração, da falta, e daquele pedaço que quebra e pronto.
Cinzas.
Farinha.
Areia.
Sinto meu peito esgotado.
Pupila inchada.
E o quarto tem claridade demais.