sábado, 26 de maio de 2012

Meu telhado


De uma história de amor restam vibradores e um gozo silencioso no fim da tarde. Os pequenos momentos voltam como monstros enquanto fumamos um cigarro na varanda. É assim que se define o amor, resquícios e lembranças. Nossas vidas caminham em silêncio, anestesiada olho... não sei pra onde. Um amor por dia, uma paixão por horas e o sofrimento quase alegre de sentir, preciso sentir, preciso sentir. Assim percebo que ainda tenho vida.  Guardei os vibradores e não fechei os olhos depois de gozar, apenas acendi um cigarro, ouvindo as batidas do relógio na parede senti a vida. Teto branco e uma chuva que não cessa. Os passarinhos fazem amor no meu telhado, a fêmea cuida dos ovos enquanto eu mato meus bebês. Assassinei o meu amor. Lúcida como um dragão, abandonei a casa com uma mão coberta de sangue, na outra uma sacola onde carreguei os vibradores, as fotos, a certeza e a dor. Segui ereta e constante, como quem escolhe um caminho e não consegue (nem pode) se desviar dele. 

domingo, 20 de maio de 2012

FRIO




A dias que tem feito muito frio, e com ele essa languidez e melancolia de um bom inverno. Se eu pudesse quebraria tudo, fecharia as cortinas e me trancafiava em casa. Compraria alguns maços de cigarros, uma sopa e passaria minhas noites lendo Amós oz e suas incansáveis cartas enredadas de amor. Passaria a manhã ouvindo Piaf, sentada na varanda, ao lado do meu alecrim e da minha guiné. Deixaria de lado a ansiedade que provém do futuro, existiria apenas, como uma eterna náusea que não cessa. Apagaria as lembranças que me fazem chorar tanto, aceitaria o convite do cara da noite passada e o amaria, profundamente. Mas não, não se estabelece a realidade pelos sonhos, uma vez ou outra sim, mas não constantemente. Não sei ser diferente, minha sinceridade me consome. Quem sou? Nem mesmo eu posso dizê-lo, mudo tanto que me apresso para acompanhar os vestígios que deixei cair. Meu amor imenso destrói meu fígado, meu amor imenso cansa minha alma,  por que eu não consigo simplesmente aceitar o menino lindo e delicado que disse “Eu te quero”? Porque não sinto amor, quando não sinto amor nada me move, nada me faz fingir o contrário, jogo as ilusões no lixo e meu coração determina o caminho contrário. Sofro de falta de racionalidade aguda, sofro no frio porque aqui dentro a fogueira luta sempre pra aquecer a vontade. Ou toca ou não toca!Ponto! Funciona assim: você se fode inteira, mas não deixa escapar a madrugada com a moça que lhe despertou amor na alma. Depois ela vai embora, como uma andarilha, e você dói por amor. Amanhã repete a sinopse do filme, e você se fode mais. Você começa a aceitar, não que seja “gostoso” ou “prazeroso” viver assim, mas você aceita.  O que sinto é maior que minha racionalidade em não sentir, não escondo de mim, não escondo de você, não escondo de ninguém. O que acontece? Você se fode pela milésima vez, e no frio é pior. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Para: Uma certa flor...




Hoje à tarde eu chorei um pouco. Ensaiei o Hospício, depois, como de costume, fui beber minha vodka no buteco perto de casa. Encontrei amigos, ri um pouco, dei uma bola e pensei na gente. Atordoada pelas lembranças que tem vindo a tona, como dragões que aparecem sem aviso,  senti em mim a vontade de escrever o que tem se passado, voltei pra casa, bêbada e. 

Foi depois que percebi que hoje é dia 19 de maio, um pouco incomum, mas a explicação que faltava pelo desassossego instaurado. Como dizia Clarice “ Só me comprometo com vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim.” Abriu-se em mim um espaço e logo então adentrei no desconhecido, hoje penso diferente do passado, agradeço a Deus a constante desconstrução e insegurança que me persegue nesse tempo que não compreendo.

 Meus dias acordam constantes, seguindo os segundos e os minutos lentos de quem sente. Montei um altar na minha casa, aprendi que magia é fato e os fatos nem sempre são escolhas, vivemos a sobremesa sem receita, mesmo que a massa perca o ponto a sobremesa é nossa e o gosto somos nós que criamos. Te amei como nunca havia amado na vida, só me dei conta disso um tempo atrás, quando me vi triste perdendo a lembrança do cheiro ou do gosto do café que você fazia pela manhã. Passai horas tentando lembrar a sensação da sua pele tocando a minha.... Não encontrava! Não encontrei! Esqueci os detalhes, perdi no tempo e na recordação do corpo o tesão, a paixão, o encontro. O que fica é o amor, bruto, cru, sangrando como vaca após o parto feito as pressas. Teria te amado pra sempre, e na certeza das poucas lembranças registrada em fotos, a crença de que poderíamos ser maiores e mais, felizes pra sempre, assim mesmo...Feito Cinderela no final do conto. Plagiando Florbela “ No alvorecer dos meus 16 anos, compreendi muita coisa que até ali não tinha compreendido e parece-me que desde esse instante cá dentro se fez noite” No alvorecer dos meus 16 anos vivi muita coisa que não compreendia, parece-me que desde esse instante cá dentro se fez noite, segui a vida tentando compreender. Você apareceu ali, no meio do furacão de quem acaba de se descobrir gente. Não posso e não devo cobrar de você as compreensões que me eram caras e inexistentes. A pequena menina perdeu o controle, afundou-se dentro de si, seguiu o ciúme e a inveja, vestiu as roupas do desespero e cegou-se com as próprias certezas. Nunca me permite te enxergar como ser humano, talvez em alguns momentos sim, mas na maioria, o que me cabia, era te enxergar como macho, um bípede do sexo masculino encarregado de me fazer inteira, de me fazer feliz. Idiota! A princesa Míchkin, vestida com trajes a rigor, saindo a procura do caminho certo. Só depois descobri que não existe caminho certo ou errado, só existem caminhos. Gostaria que o meu continuasse sendo ao seu lado, porque é por você que meus olhos se enchem de brilho e lágrimas, é por você que perco o controle, é por você que sigo mesmo sem saber, é por você que... Resumindo tudo, sinto amor. Amor demais! Não era assim?! 

Passam homens pela minha cama e eu caminho na cama de uns ou outras, mas nada se compara ao amor, sigo sendo leal a você. É por você que me masturbo quando o vento encobre meu rosto com nossos antigos suspiros. Sigo quieta, como alguém que tenta descobrir o lugar onde se perdeu a Terra do Nunca. O Hospício somos nós, nem eu, nem você, mas nós. Esse pequeno aglomerado de células sustentando-se sobre a alma. Sinto medo. Medo de que o rato entre e me faça cair do banco, medo de morrer sozinha, medo de não adiantar o silêncio, medo de gritar e ninguém ouvir. Mas são só medos, coloco todos na bolsa e vou indo, sempre vou, e escrevo, e falo, e escrevo, e ligo, e sinto, e choro, e escrevo, e lembro, e morro um pouco, e me salvo mais ainda, e escrevo, e rezo...peço....acendo vela e ando com guia de Oxum, VIVO!!! Subo no palco como quem pede ajuda, uma pequena fé pra seguir adiante. Sobrevivente! Sobrevive a guerra que criei comigo, uma ferida a mais, uma mão a menos, não importa! Te amo! Te amo muito e isso é tão profundamente lindo, essa é a paz que me faltava... Amor! Amor sustentando o edifício inteiro. Sonho com você, escrevo pra você, dedico músicas a você, leio pra você, te indico livros, escrevo cartas que nunca serão enviadas, enlouqueço... Seguro a sanidade na ponta dos dedos e tento me fazer mais Capricórnio e menos Peixes.

 Nem amigos nós nos tornamos, não sei se isso é pior, ou melhor, mas sei da dor que fica, uma sensação amarga na boca quando amorteço a vontade de te ligar às 3h da madrugada de uma segunda-feira, só pra dizer: Flor... Tenho pensado tanto em você, acabei de ver um filme que. 
Não funciona assim, quando se trata de ser humano o buraco se torna mais fundo e mais complexo, quando misturamos amor no meio o buraco é escuro e o fundo não tem fim.

 Espero o dia que essa história se perca no meio das outras e meu peito se abra pra dizer: Eu também! 
Enquanto isso, deixo aqui escrito e registrado:
- Marcelo, não te esqueço. “É na incompreensão que se ama”, é na saudade que se percebe a falta.

“Amor meu grande amor só dure o tempo que mereça”

“Tudo certo como 2 e 2 são 5 “

É isso... Nem mais nem menos. Isso!


19 de maio de 2012, Belo Horizonte, 2:27am.
Dayane Lacerda

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Para: um certo Cazuza








Meu pequeno Cazuza, que se torna cada dia maior e mais intenso. Que a vida nos leve sempre e que sejamos os maltrapilhos marginais e sofredores de toda noite maravilhosa de quem ri. Nosso corpo pesa, não pelo sofrimento, mas pelo simples fato de aceitarmos essa nossa condição que arrefece quase tudo, aflorando a integridade do amor. Não se percas de mim, e seja sempre o óbvio que me sufoca, da minha parte serei fiel e sempre leal a lua cheia dos grandes encontros. Cura sua dor em mim que arregaço as mangas pra descobrir mais amor, sempre mais e mais amor, é só isso! Sejamos fortes, para todo sempre. Sejamos fracos, para que saia de nossas almas o reconhecimento da dor. Te amo com a completude de quem se exaspera. Não adianta.....fudeu!!!!FODA-SE!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Embaixo do banco eu digo sim!


Sabe o que acontece? A gente perde o chão vezenquando. Até da pra fantasiar o piso, mas nem sempre se consegue enganar. O quarto fica vazio e a esperança mora nos sapatos colocados do lado de fora.  Vazio. Vazio. Vazio de doer os dentes. Um dia na cama de um, outro dia alguém na sua cama, mas nada substitui o buraco no peito que teima em se manter na ativa. O problema é a fome do mundo! Quem disse?! Durmo bem e tenho um bom salário no final do mês pra comprar minhas fantasias. E dai?! Não sei mais de muita coisa e tenho colocado a felicidade nas dezenas de plantas que enfeitam minha varanda. Queria adotar uma criança e comprar um cachorro, mas quem disse que minha cabeça aguentaria a estabilidade?! As pessoas tem medo do amor, dessa maneira fica mais fácil o relacionamento “perfeito” e as pessoas sem sal! O mundo tem salvação! Onde eu ouvi isso?! Hoje tem espetáculo, amanha tem ensaio, depois de amanhã tem aula, depois e depois tem público, depois tenho roupa pra lavar, depois tem um dia de reconhecimento, depois tem filme pra fazer, depois tem texto pra decorar e personagem pra entender, depois tem sempre um depois e de nada me adianta esse todo.  Sou feliz por ontem e triste pelo depois. Agora eu seguro a paz entre os dedos das mãos e deixo o corpo na encosta do abismo, quem sabe eu pulo?! Enlouqueço e vou morar naquela praça onde os melhores homens do mundo guardam seus pertences embaixo dos bancos, com eles eu caso e vivo feliz pra sempre, sem medo, sem culpa, com amor demais eu digo sim. Depois?! Quem disse que o importante é o depois?! 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Para um alguém qualquer

Um alguém qualquer: De repente fica assim. Perco o sentido e desacelero um pouco o motor. Tenho medo. Tenho medo de sair daqui e de ver esse vazio crescendo e crescendo e crescendo, como se não existisse absolutamente mais nada. Culpado! Eu! Vilão de mim mesmo! fumo meu cigarro sozinho e mesmo ao lado de alguém tenho me sentido distante. Acho o recolhimento importante pra ver se renovo as energias... Me sinto fraco. Me sinto péssimo Me sinto triste! Me sinto!


Uma mulher qualquer: Apesar de tudo não duvide nunca que eu amo você. Aceito esse seu silêncio que dura mais que o inesperado. Aceite-me.


Uma alguém qualquer: Sinto! Se você compreende-se


Uma mulher qualquer: Eu não compreendo, mas aceito.


Um alguém qualquer: E mesmo assim você me ama?


Uma mulher qualquer:  "É na incompreensão que se ama"


Um alguém qualquer: Te compreendo, mas não aceito.


Uma mulher qualquer: Te deixo ir então. Mas saiba que amor em mim nunca irá faltar, te sentirei nas manhãs ensolaradas e nas de frio também. Escreverei pra você poemas que nunca te alcançarão, vou chorar quando aquele dia me fizer lembrar da gente, vou rir das bobagens entrecortadas pelo ridículo que é amar no escuro. 


Um alguém qualquer: Adeus!


Uma mulher qualquer: (silêncio)