Eram verdes os tecidos da cama. Uma estante, uma mesa, duas plantas e uma quantidade elevada de livros, literatura romântica em sua maioria. Tudo fedia a cigarro, corpo pesado em cima da cama, seco, árido e inabitável. Os dentes trincavam no olhar vago e cinzento. Cigarros demais, medos demais, sonhos demais, dores demais, obrigações demais, intensidades demais, gordura demais. Gorda! Uma vaca derretida afundando o colchão, abrindo buracos nas costuras das calças, na insegurança diária, nos desejos assassinados antes de dormir. Nem feia nem gorda, uma porca. Um mamífero abandonado até o osso. Um réptil nojento e solitário. Como era linda aquela cena, aquele corpo gordo afundando o colchão, pesando na pele, existindo em si mesmo todos os quilos do peso da vida. Eram amareladas as lembranças do amor, negativo em preto e branco suavizando a falta. Mais um cigarro, mais uma dose, mais uma ansiedade, mais um dia e ponto. Luzes apagadas e os quilos escorrendo entre colchão e alma.
Apagou—se.