terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Frestas

Eram verdes os tecidos da cama. Uma estante, uma mesa, duas plantas e uma quantidade elevada de livros, literatura romântica em sua maioria. Tudo fedia a cigarro, corpo pesado em cima da cama, seco, árido e inabitável. Os dentes trincavam no olhar vago e cinzento. Cigarros demais, medos demais, sonhos demais, dores demais, obrigações demais, intensidades demais, gordura demais. Gorda! Uma vaca derretida afundando o colchão, abrindo buracos nas costuras das calças, na insegurança diária, nos desejos assassinados antes de dormir. Nem feia nem gorda, uma porca. Um mamífero abandonado até o osso. Um réptil  nojento e solitário. Como era linda aquela cena, aquele corpo gordo afundando o colchão, pesando na pele, existindo em si mesmo todos os quilos do peso da vida. Eram amareladas as lembranças do amor, negativo em preto e branco suavizando a falta. Mais um cigarro, mais uma dose, mais uma ansiedade, mais um dia e ponto. Luzes apagadas e os quilos escorrendo entre colchão e alma.

Apagou—se.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Por ser e ir e estar e simplesmente sentir

Dorme, que de antes vem o depois.

HOJE

Queria sentir os segredos que escondo. Depois arrefecer essa labuta da alma em vigor. Arreganhar as vísceras e arrebatar o entre. Talvez seja, talvez não. Um simples tesão-amor-dessabor pela dor da vida. Essa felicidade que não se explica. 

A gente se encontra quando encontra na gente a vida.  

Depois perde, depois vai. a gente segue tentando pra adquirir no peito o sabor do gosto de existir.

Para:

Denise Leal

Hoje te amei como águia.

em-n-torno

De longe tudo parecia mais calmo e mais sereno. de perto tudo se multiplicava e a vastidão do mar era fúria em mágoa e dor.


Para:

Samuel Sudré


...me entrego! sem apelo, sem desespero, apenas essa inexistência de sentir.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Pique estrondo

Achei uma harpia plantada embaixo da minha cama, ela possuía seios enormes e rosnava feito um leão. Deslizava suas patas nas minhas, dizia doçuras incuráveis e pestanejava uma certa falta de sentido. Chorei feito criança desaparecida na multidão, vociferei com raiva uma asa de irritação mitológica e tardia. A Harpia observa quieta meu ataque eufórico-histérico-sem-sentido, minha impaciência brutal arrancou-me pra fora do eixo, deslizei irrequieta pelas bandas de uma espada de São Jorge, arranhei os braços, perdi a palma dos dedos e cortei as unhas até o talo. O sentimento mais verde do mundo se apossou dos meus ossos, afoguei a harpia dentro da borra de café... Depois bebi, me acalmei, enfaixei os livros dependurados perto do pulmão e continuei.

Hoje senti falta da harpia, procurei tanto que perdi os dados.

Doeu.

“Sobretudo não me engane mais(redondos nossos).”
Camille Claudel

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

SILÊNCIOS RODEADOS DE AFETOS



POR UMA PAUSA SEM ESPAÇO ESTABELEÇO AQUILO QUE GOSTARIA DE SER ININTERRUPTAMENTE POR AQUILO QUE SOU EM SOLAVANCOS....

Te amo de amor



...O tempo passa.
A vida cura.
O passado estraga.
O vento cuida.
O regaço conforta.


sábado, 19 de janeiro de 2013

Para quem ainda vier a me amar

Um vazio inexplicável de doer o osso




Perda

As imagens me descontrolam por inteira...


IT

Por um determinado momento recuperei da vida o que quis. Nesse exato instante refaço um tecido e corto pedaços.
Um buraco.
Existe um buraco que não se explica.
Aquele seco emoldurado no caos.
Um buraco negro em silêncio.
Desse contra-conto retiro as palavras que faltam.
Falta. Sempre falta.
Cortei o dedo.
O que acontece quando falta?
Guardamos um espaço no tempo
Nunca gostei de copiar ninguém, minha tristeza nasceu de uma certa originalidade que nunca existiu.
Mas ainda sonho e continuo sorrindo dentes amarelos de cigarros...

"Corto a dor do que te escrevo e dou-te a minha inquieta alegria"

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Para os fins dos tempos

Pensei que seria fácil. Vai e vem e a coisa gigante resolve aparecer entre linhas, na surdina, de surpresa. Grita como um bicho com fome. Tem a destreza de mendigar as migalhas que lhe neguei no inverno. Fazia e faz frio, nem por isso cedo. Logo ontem, em dia de lua, o gigante gritava feito criança desmamada. Firme e forte fechei os ouvidos. Às vezes dói, às vezes não! Não me importa! Quero o fim que se esquece o começo, aquele apagão repentino, sem lugar. Ascendo uma vela, fumo um cigarro, bebo uma dose e rezo...