segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um mal-cheiro de dar nó na alma

A noite escura aperta o peito, todos os cantos silenciosos parecem adormecer sem grandes necessidades. A porta sendo fechada e as roupas pingando no varal. O alecrim secou, não sei se por falta de água, luz, calor...ou pelo excesso deles, mas o pobrezinho quase se desmancha na terra. Pia limpa, sala ajeitada, e um desconforto impossível no peito. O final de semana foi de chuva, uma chuva baixinha, um cabelo arrepiado no braço, e o cheiro desfalecido da lixeira antiga. Lembranças. Uma hora de lembranças. Meio minuto de silêncio, olhos pedindo tempo. Cobranças. Não paguei a água nem a luz, preciso encontrar um tempo e enfrentar a longa fila do banco. Mas não consigo fingir, acho um saco essas filas de banco, escorrego e deixo vencer. Vencida. Um mal cheiro insuportável dentro da geladeira, arroz mofado, carne velha e beterraba murcha. Marcas de expressão me denunciam, estou velha, e os velhos estão sempre cansados. Joguei tudo fora, mas o mal cheiro continua, tentei, eu bem que tentei. Nunca fui muito corajosa pra jogar coisas apodrecidas no lixo, acho sempre, que um dia, elas poderão me servir de algo. Faz frio aqui. Nenhum sinal bonito de fumaça, como isso ainda pode me doer tanto? Estou cansada, mas um cansaço bom de dever comprido, de coração dado, de alma aberta, casa limpa, geladeira vazia e roupa lavada. Coloquei as coisas podres do lado de fora, ainda não tive coragem de colocá-las na lixeira....lembranças....podia ter dado certo!Quanto desperdício, os ambientalistas estão morrendo e eu aqui...jogando comida fora, desmatando a alma, queimando o coração. A Dilma distribui bicicletas.... quem sabe, um dia, eu ganho uma bicicleta bem bonita, com flores que durem muito, apesar do frio, do calor, do sol, da água, da sombra, do medo, do desespero, do silêncio, da vontade, do ser de 67kg que pesa em mim.....quem sabe um dia eu ganhe uma bicicleta da Dilma, cheia de flores e colorida...ia ser divertido!Aí eu fujo pra bem longe desse mal cheiro, desse lixo(lembranças), dessa noite escura apertando meu peito. É....quem sabe um dia!
.....eu não espero mais.

Pequenas flores secando no chão

Não sei mais o que faço com todas essas flores que estão ardentemente escorrendo dos meus braços, das minhas mãos, das minhas pernas, da minha alma, do meu coração. Não sei se posso ou devo fazer alguma coisa, mas eu sei que sem mim elas vão secar no chão frio e tranquilo. Que sequem todas as flores na sua calma de fim. Eu não posso fazer mais nada, dei minha última gota de força, e meus braços estão moles, fracos e sem desejo. Me fixo no silêncio, e te peço somente que me deixe aqui, que me deixe ir, sem flores, sem calma, sem vontade. Mas eu vou, e sigo tentando. Colhi o que deu, guardei em mim até quando pude, mas agora....perdi completamente a esperança. Se tento escrever é porque dentro de mim ainda existe uma pequena fé, não sei em que, mas existe. Eu não sou isso que você precisa em mim, eu não sou nada além de uma pequena vida buscando a sobrevivência. Tentei absorver de tudo as melhores partes, mas nem sempre foi possível. Sei que preciso de muito, talvez por isso seja melhor seguir sozinha. Dei pra todas essas flores a melhor parte que encontrei na alma, mas elas exigem de mim uma coisa que desconheço, e nesse pequeno espaço de tempo, eu não consigo. Estou fria, precisando de um carinho sincero, de um carinho sem cobrança, de um carinho que é dado gratuitamente pra essa que aqui escreve. Preciso ver nos seus olhos amor, preciso encontrar aquele brilho que tanto parecia me querer, aquela fome de me comer inteira, de me comer dessa maneira minha que um dia tanto lhe agradou. Mas agora vejo só cobranças, e cobranças, e mais cobranças....de tanta coisa, tanta coisa distante do que um dia fui, do que um dia sou. Eu simplesmente não consigo e não posso mais. Minhas pequenas flores...eu dei o que pude. Colhi, plantei, dei água, sol, luz, sombra....dei amor, dei vontade, carinho e desejo. Mas agora eu peço desculpas pela falta de força, vocês exigem muito de mim, muito além do que eu sou, muito além do que posso dar, do que eu posso ser.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cheiro de café e queijo

Uma pessoa difícil. Um dia de chuva. Lembranças acalentam esse coração vazio. Relembro de cada pedaço e de todos os momentos bons, de todos os momentos doces com cheiro de café e queijo. E ainda me pergunto onde foi que errei tanto. Qual foi a enorme falha pra te ver do outro lado da praia com esse aperto no peito. Eu não sei. Fechei todas as janelas, a casa começa a feder mofo por todos os cantos. Geladeira vazia. O açúcar acabou. Arnaldo Antunes e Nando Reis são meus companheiros noturnos. Ainda resta os Sobre-viventes. Mas e daí?os dias são curtos e extremamente compridos. Muitos cigarros, muitos vinhos, muito choro, muita falta, muita vontade de desistir. Eu tô cansada. Eu que acreditei tanto...agora tô cansada. Queria ser boa como os pássaros na chuva, como aquelas flores bonitas que crescem no meio do asfalto. Como aquele mato verde ao redor da casa cinza. Aquelas rachaduras que aparecem dando espaço para o verde, para o tronco, pra raiz. Aqueles sorrisos que nascem depois das brigas. Aquele doce de queijo que minha avó fazia. As brincadeiras junto a pia, a disputa pelo final de semana feliz. As risadas eternas e simples depois dos ensaios. As cervejas no maleta, e a banda fazendo música para o nada. Nós quatro, nós três, nós dois. Éramos. Fui em tantos, que delicia ser!Que delicia saber de si, pura e simples!Saber de todo mal, mas saber também de todo bem. Acolher tudo sem distinção. Acolher. Acolhimento. Uma casa quente, uma churrasqueira, um copo de coca-cola, uma xícara de chá, um colo, um carinho, uma vontade, uma certeza, um amor. São só palavras soltas....soltas como eu, pendendo de lado, mas me equilibrando nesse céu de marcas violentas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Desesperada

O que ela sentia era desespero. Verdadeiramente sem saber de onde. Acordava um pouco amassada, todos os dias. E sempre procurava fazer melhor. Procurava sempre aquilo que, de alguma maneira, iria fazê-la suportar aqueles dias. Às vezes ela sorria, mas isso era bem às vezes. Na maioria ela sentia culpa por quase tudo, e o desespero era saber que tudo, ou quase tudo, vinha de um enorme e não desejado erro seu. Ela se apertava inteira. Sua alma estava em pedaços. O corpo já não sabia pra onde ir. Os olhos eram frios. A pele era vaga. O coração sangrava sem dor. A respiração se descontrolava. O medo era constante. Seus dedos se apertavam contra a própria mão. E suas escápulas doíam. Trocou água por vinho. Ar por cigarro. Vontade por sobrevivência. Ela sobrevivia. Chorava tanto, e por qualquer motivo. Mas só ela sabia que aquele choro eram todas as histórias escondidas dentro dela, remoídas e não-apagadas. Não se sabe porque, mas ela pedia perdão por ter estado onde esteve. Ela pedia perdão por ter vivido o que viveu. Ela pedia a Deus que a fizesse esquecer, porque tudo aquilo doía tanto, e o que ela mais desejava na vida era não lembrar. Todas aquelas mãos que já tocaram o corpo dela, a enojava. Todos os bichos, todos os seres, todas as coisas que nunca à fizeram bem, se tornavam um nódulo nas costas. E como isso fincava. Ela sabia que poderia amar qualquer um. Isso ela tinha de bom, ela podia amar. Ela podia amar sem distinção. Ela podia amar até mesmo aquilo que não tinha vida. Um dia ela amou uma vaca, no outro uma ventania e depois os mendigos da praça. Mas como aquilo doía depois. Sem saber ela era qualquer coisa tão apertada que sempre se derramava pra fora. Às vezes quente, quente de mais. Às vezes fria, extremamente fria e sem cor. Se ela morresse alguém choraria sua falta?isso a incomodava. Porque não sei se isso acontece com todo mundo, mas às vezes ela perdia a vontade de viver. Ela era melancólica. Ela gostava de surpresas. Ela amava os dias gelados com quatro pés colados. Ela comia muito toda vez que não sabia mais o que fazer. Ela se salvava em livros. Ela sentia solidão. Nunca foi muito boa pra nada, outra coisa que à incomodava muito. Tinha febre.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Um monstro

Os dias estavam claros, extremamente claros. O sol brilhava de longe, uma luz intensa e gostosa de se sentir na pele. Ela ria, sorria...como não fazia a dias!Tomou um banho demorado, cuidou dos cabelos, dos dentes. Se embelezou e …... errou!não sabe se errou por si, se errou pelo outro, se errou pelo mundo. Não sabe de onde vinha aquele mostro que a fazia tremer, chorar, bater. O mostro morava dentro dela, e tudo que ela desejava era não tê-lo!Ela detestava essa pior parte dela que vinha quando ela menos esperava, e ninguém entendia, ninguém compreendia. Ela fazia tudo....a melhor comida, os melhores gestos, os melhores carinhos. Mas quando o mostro aparecia todos a enojavam. Depois ela chorava sozinha...e rezava muito, rezava tanto....pra ver se aquilo que ela não queria fosse embora, da mesma maneira que apareceu....dentro dela!Ela perdia!Perdia todos os brilhos, toda beleza, todo amor. Ela perdia e sofria tanto...tanto!Porque no fundo ela desejava sempre ser sua parte boa, sua parte simples, sua parte limpa. Mas ficava suja, ficava feia, se tornava qualquer uma sem grande importância. O pior era perder quem amava, por causa do monstro. Mas ela perdia...e não adiantava pedir desculpas, não adiantava gritar por ajuda...eram sempre os mesmos discursos, as mesmas desistências!Novamente ela se via sozinha, quieta no quarto com seu monstro nas mãos. E mais uma vez ela rezava e chorava. Um dia ou outro o monstro dava uma sumida...uma dia ou outro o sol ficava brilhante de novo. Mas infelizmente isso era só um dia ou outro....

sábado, 7 de maio de 2011

CINZA


Eu tô com ódio!com raiva!com medo!com uma tristeza tão grande e tão funda...
Eu tô chorando....eu tô chorando muito!
Tô muito triste.....
Eu tô apertada por dentro.... tô me sentindo desrespeitada, arrancada, chutada
Parece que ganhei um soco na cara, um soco inesperado
Tô com muita raiva, sentindo uma porção de coisas muito ruins
cinza..opaca...melada...fudida...abandonada....machucada...sozinha....só
Eu quero ir embora... pra sempre!
.... mas eu sei que amanhã acordo e continuo....

Socorro! Eu preciso de alguém!
Socorro! Não qualquer pessoa
Socorro! Você sabe que eu preciso de alguém socorro!

Quando eu era jovem, muito mais jovem que hoje
Eu nunca precisei da ajuda de ninguém em nenhum sentido
E agora estes dias se foram, eu não sou uma pessoa assim tão segura
Agora eu acho. Eu mudei minha mente e abri as portas

Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo
E eu aprecio você estar por perto
Ajude-me, coloque meus pés de volta no chão.
Você não vai, por favor, ajudar-me?

E agora minha vida mudou em muitos sentidos
Minha independência parece dissipar-se na neblina
Mas de vez em quando me sinto tão inseguro
Eu sei que preciso de você como nunca precisei antes

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aquela mulher de pés inchados

Ela tinha os pés duros e inchados, eles mal lhe cabiam. Aquilo tudo doía de uma maneira ingrata. Ingrata pelo desejo único de não senti-los, mas ela sentia. E não bastava nada que arrancasse aquela dor, a dor era dela. Simplesmente buscava cegamente coisas que não apertassem, mas no inesperado da noite seus pés inchavam, ficavam roxos e latejavam de dor embaixo das cobertas. Ela uivava como um lobo, arrefecia-se na inquietude de uma lua cheia, brilhante, balançando naquele céu que mas lhe parecia um mundo incompreensível. Ela chorava, chorava silenciosamente porque ninguém encontrava seus pés desproporcionais, ninguém percebia a febre que tremia por dentro, os médicos diziam em seus ouvidos, calejados de ouvir sempre a mesma história, “Seus pés são normais”. Ela lutava sozinha...e a vida tem dessas coisas, a gente sempre luta por algo no escuro, e não a olhos que enxerguem com a gente aquilo que só nossa alma pode descobrir.
No meio da tarde ela começava a pressentir a dor dilacerante chegando nos ossos, buscava então qualquer fórmula externa que expurgasse a sensação dos pés gigantes, dos pés roxos e enormes, dos pés que doíam. Um dia ou outro ela encontrava, mas dependia sempre de alguém, e isso nós já sabemos.... depender do outro para aniquilar qualquer tipo de dor inexplicável e, não comprovada cientificamente, é fracasso. Ela fracassava quase constantemente.
Um dia seus pés cresceram tanto, de tal maneira que ela caiu, não conseguia se levantar, no quarto gritava sozinha, as paredes não respondiam, nem as plantas, mesas ou panelas. Ela pedia ajuda pra privada, pra pia, para seus sapatos embaixo da cama, mas nada era como gente, nada criaria alma e entenderia que ela precisava de ajuda. Milagrosamente, depois de dias de gritos homéricos e ensurdecedores, depois de não aparecer no trabalho, na escola, na padaria, os vizinhos apareceram!Os médicos, os amigos, a família, o padeiro...mas as pessoas, assim como as coisas , não agiam. Ninguém a puxava pra cama, ninguém a levantava, ninguém perguntava sequer se ela precisava de ajuda. Elas olhavam, em silêncio elas apreciavam a cena. Compraram pipoca, coca-cola, sucos e cerveja. Fritaram pastéis, coxinhas, empadas. A plateia estava bem aconchegada, bem organizada e não perdiam o espetáculo. A fama da mulher de pés inchados, atravessou o continente!Africanos, Turcos, Ingleses, Mexicanos, Árabes, Italianos, pobres, ricos, donas de casa, empresários, lixeiros, cozinheiros... Todos despencaram para o GRANDE SHOW!O show da mulher caída de pés inchados, roxos, enormes e estranhamente doloridos. A imprensa transmitia ao vivo seus gritos, os jornais lançaram suas criticas contra o que parecia irreal, os fotógrafos não cansavam de procurar o melhor ângulo dos pés. Todos em prol da mulher caída, dolorida, enlouquecida, de pés roxos e inchados. O mundo comia pipoca e apreciava o SHOW!Foi aí que a mulher de pés inchados se fez de forte, e no meio da multidão entretida, arrastou-se até a gaveta, pegou uma tesoura, e cortou os pés!Depois os enterrou na terra da planta. Nesse exato momento ela ficou fria, perdeu a cor, o brilho da dor nos olhos. Levantou-se no toco das pernas, exausta, adormeceu. Um a um o público foi perdendo o interesse, voltando para suas casas, encontrando seu cotidiano. Em um minuto o mundo se esqueceu da mulher de pés inchados e, interessantemente, doloridos. Ela continuou dormindo... e dormiu enquanto o mundo se esquecia dela!
Eu não sei como terminou a mulher de pés inchados. Assim como as paredes, eu permaneci quieta, e assim como as pessoas, eu simplesmente assisti ao show e depois fui embora.
Hoje é quinta-feira, lembrei da história da mulher de pés inchados depois que tentei dormir e, algo embaixo das cobertores, começou a me incomodar..... doí tanto...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Em soluços....

Os últimos dias tem sido melancólicos. Soluços!Me sinto um leão...Aparentemente forte e depois cheio de medo. Tô insegura!Tenho me sentido feia de mais, sem graça de mais, burra de mais, triste de mais. Segura na minha mão...esse soluço que não para. Tô com medo das coisas não darem certo, de ter feito errado, de estar indo pelo caminho inverso. Sem promessas. Soluços!Afagos!Uma cama vazia, uma casa vazia, um céu cheio de livros. Sobre minha cabeça...palavras. Não sei quando a gente perde, e nem sei se existe mesmo essa coisa de “perder”. Não a nada pior que essa sensação terrível de permanecer silenciosa. Quieta pelos cantos, os cômodos, as frestas. Escorreguei dentro de mim, amoleci por dentro, sem força....eu durmo. Que o alivio venha de algum lugar que eu não conheço, que a certeza, mesmo que areia, caia das minhas mãos e aconchegue meus pés. Eu rezo e peço a Deus todos os dias que me dê coragem. Desejo coragem pra suportar o desejo que não me cabe. A noite brilha la fora e dormindo eu amoleço. Coragem, coragem, coragem!Dido e repito....coragem!Que seja doce....