terça-feira, 15 de março de 2016

O dia mais feliz da minha vida

Tem uma suite do Bach, um solo de celo, que me emociona muito. Coloco pra tocar todos os dias a noite que estou em casa. Já fazem quase 13 anos desde a primeira vez que pisei nessa cidade, antes tão fria e agora de um calor insuportável. Aprendi a gostar e cuidar de plantas. Me acostumei a solidão de uma forma tão discreta, gosto das minhas taças de vinho sorvidas de tristeza, alegria, desespero e um pouco de fé no final da garrafa. Não sei quem sou, muito menos no que foi que me tornei, só tento ser sincera, só isso, mas isso me mata. A sinceridade é solitária, ela te agarra e começa a se tornar uma regra. Não da pra mais fingir o que não é, ou acreditar naquilo que não te convence. Isso é desesperança? É o que? Dormir 40horas seguidas significa alguma coisa? Meu pai me magoou profundamente, acho que ele nem sabe disso. Depois veio toda aquela história dos sete meses vivendo no silêncio, enquanto eu esperava outra coisa. A gente sempre espera uma declaração de amor, um alguém gritando no final da escada que você é a pessoa. Tão clichê, tão prega, tão démodé. Desejo acordar com energia, desejo encarar a vida, os dias, o amanhã. Desejo dar conta. Dar conta de ser isso que me tornei. Desejo mais, mais amor, mais verdade, mais entrega. Desejo, desejo imensamente uma intensidade tão absurda que me rasgue as veias. Desejo que as pessoas falem, façam, sejam. Desejo tudo que ultrapasse a dor da mediocridade, essa dor é a pior de todas as dores. A dor de ser medíocre diante da vida. Minhas pernas doem. Meu pulso dói. Meus dedos da mão doem. Meu dente também tem doído, do mesmo jeito que o osso do peito. Sinto como se tivesse desistido de ser feliz, acho que entendi que a felicidade é uma coisa extremamente rara que só acontece vez ou outra. Tenho um problema muito sério, eu desisto das coisas que perdem o sentido. Eu também desisto das pessoas quando elas mentem demais. Não sei o que acontece, mas uma parte do amor vai para o fundo do ralo, e fica difícil enxerga-lo. Antigamente eu conseguia ser tão triste, me desesperava e cortava o braço. Hoje eu fico parada olhando sei la o que. Não me da vontade de fazer nada, nem chorar, nem gritar, nem espernear, só sinto vontade de dormir ou ficar parada. Furtaram minha alegria, minha fé na humanidade, minha esperança no amor. Me roubaram a crença na amizade, a utopia das grandes lutas, o desejo de ser melhor. Tiraram de mim tudo que eu era, hoje sou um saco de lixo estacionado em um canto qualquer. O dia que eu desistir vai ser o melhor dia da minha vida. Eu vou ser tão feliz... tão feliz....tão feliz....tão feliz.....

segunda-feira, 14 de março de 2016

domingo, 13 de março de 2016

Um filme

Dessa leveza que pesa feito chumbo. De um lado um furacão de tanta liberdade e caminhos possíveis. Do outro, ahhhhhh do outro um vazio. Um medo absoluto. No meio a mistura é confusa, me perco, me perdi. Sinto saudade do que não vivemos. Sinto saudade do que eu não fui. Sinto falta de tudo que não foi dito, tudo que não foi feito, tudo que não cumprimos. De novo a mesma fissura no osso. O mesmo buraco. Um saco de lixo podre no canto direito do quarto, embaixo da cama, escondido. Oito meses apodrecendo enquanto eu dormia, não vi nada, sequer senti o cheiro. A culpa são de todos esses cigarros intermináveis. Meu pulmão dói. Retornamos na mesma cena, eu deitada no chão com um soco e uma faca. Você em pé, chorando o fato de não poder fazer nada.... Impotente, ferida, falsa. A lama continua escorrendo, entupindo as varizes e o ar.

sábado, 12 de março de 2016

Dói tudo, até o dente!

Sabe um soco? Um soco no plexo solar. Bem dado, de direita, aí você cai. Logo depois alguém vem e te dá um chute, na boca do estômago. Você nem levanta mais, fica ali....quieta. Sentindo aquele cheiro pobre saindo da calçada. Lembrei do início de ninfomaníaca, do Lars Von Trie, e depois aquele rock ensurdecedor. Lembrei do Van Gogh quando ele corta a orelha depois que Gauguin vai embora, e da crise da Camille Claudel, quando ela destrói todas as suas esculturas depois do abandono de Rodin. Abandono é uma palavra que nos pega de surpresa, e ela crava lá dentro do peito uma estaca. Dói a carne, o osso, dói é o corpo todo. Dói tudo! Rasga dentro da gente uma porrada de certezas e aí vem aquela sensação de abismo, de perda, de solidão. E é meus eternos 15 anos. Minha esperança tola na humanidade. Tenho até vergonha de dizer o que tem acontecido por aqui nesse país, nessa nação, nessa memória coletiva encrustada de café com leite. Meu mundinho medíocre me pede pra não continuar, mas desistir é mais difícil, é cruel com as batalhas. O que a gente faz depois que é feliz? Preciso reler Água Viva da Clarice e depois voltar a assistir Piaf, um hino ao amor. Que amor? Amor é só utopia, e barbárie é a desesperança estampada no fundo da cara. Cansei de mentiras, cansei de ser enganada, cansei de ser abandonada, cansei de acreditar, cansei de esperar, cansei de sentir esse tanto. Cansei. E agora Caio? Onde é que eu encontro o fim do ciclo seco? Meu desespero precisa ser discreto, soletrado em uma pequena esquina.... Aiaiaiaiaiaaiaaaaa Ana, você devia existir ainda, pra gente tomar um café e falar mal da vida. Dói tudo, até o dente.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Desabafei quilos

Para Denise Leal
Leia ao som de "Vaca Profana", do Caetano.



Começo sem saber ao menos como recomeçar. A cabeça vira de ponta, e aquele vazio... imenso! Corroendo as paredes de ar. Falta-me ar. Tem vez que respiro, outras não, fico em silêncio esperando o momento do ar retornar a garganta. É um alívio delicado seu retorno, leve, fresco, como se todas as coisas começassem a fazer sentindo. Desabafei quilos e respirei quilos. Ai eu penso que amar é deixar ir, é deixar ser, é deixar viver mais do que somente algo fechado no seu colo. Uma vontade súbita de te escrever, mesmo depois daquele desabamento desesperado. Eu me perco tão fácil. Pra onde foram nossos planos? Acho que foi aí que entendi que planos são somente planos. Depois dos planos é que vem o amor, o amor que dura pra sempre... Eu acho! É claro que se sou eu que estou escrevendo "EU ACHO".... eu acho. Achar o que? Onde? Uma fantasia imbecil de que as coisas valem mais depois que acabam. Queria conseguir ser menos, sentir menos, berrar menos, explodir menos, gritar menos, amar menos, dar menos, comer menos, fumar menos, beber menos, desejar menos, pirar menos, falar menos, pensar menos, sonhar menos, esperar menos.


Tudo em mim transborda excessos.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Vazios enfurnados

Tenho passado todos os dias enfurnada em casa com a cara nos livros. Não posso dizer que estudo ouvindo música clássica, isso parece arrogante e cult demais. As vezes eu me acho ridícula, to correndo atrás do tempo perdido. Será que rola? To cada vez mais quieta, na minha, usando as drogas que me cabem na minha casa rodeada de plantas, gato e ar, muito ar pra respirar com a porta aberta. To com medo de ver gente, de conviver com as pessoas, de me decepcionar. To exausta de tanta gente que me faz doer. To exausta desses livros teóricos, dessas tardes chuvosas e de todas as horas que fico enfurnada tentando escrever. Aí eu bebo um vinho e me derreto em lágrimas. Choro feito um bebê abandonado. Mas, eu to tentando... E isso deve valer alguma coisa, sei lá!