Todo amor é recíproco, porque cria-se entre um e outro e nunca sozinho. Na solidão se ama o amor e na falta a invenção do objeto desejado. O amor acontece entre, um tipo de alma recriada. Mesmo que o entre esteja terminado o amor permanece. Ele nao pertence aos indivíduos, mas a uma espécie de simulacro invisível construído no tempo. A morte é uma passagem do amor e ele continua para além de uma racionalidade da presença e do presente, ele perdura-se em si. Quando fala-se de amor exila-se o tempo, ele torna-se permanente a partir do momento que acontece, enquanto existir memória ele nao perde a vida e em cada lembrança ele reaparece no universo feito a sombra de um eremita unipresente. A dor do amor é eterna até o momento de persistência da sensação única de uma lembrança. Por isso não deve se temer o amor, ele é a criação mais intensa de um encontro e aos encontros deve-se a continuidade da vida e insistência de prosseguir adiante. Prosseguir pra que se crie, o máximo de vezes possível, o amor. A isso eu devo minhas manhãs, minhas utopias, meus sonhos e minha fé:
- Uma esperança diária de amor. Objetos, coisas e pessoas que me permitam reviver, criar e recriar o entre. Entre amores eu perduro, continuo, morro e recomeço outra vez, administrando lembranças e organizando as gavetas da memória.