Sabe dor? É, dessas que a gente fica na cama, com atestado médico e cara inchada de tanto dormir. Porque nessas horas, o melhor é dormir. Quase enlouqueci de tanta dor, de tanta magoa. Não acredito que seja sinceridade, muito menos cuidado, alguma coisa me feriu, e doeu. Não, eu não quero mais você perto de mim. Não quero ser sua amiga e muito menos acompanhar seus passos. Detesto esse tipo de pessoa que mente e que manipula o universo pra se libertar da culpa com grandes justificativas idiotas nas mãos. De fundo fica Gal costa cantando pra mim: "Talvez eu volte, um dia eu volto, mas eu quero esquecê-la, eu preciso". Eu preciso, preciso porque nada nem ninguém nunca havia me feito tanto mal. Parece que ganhei uma porrada na cara, nas costas e outra no peito. Dói!
“Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.”
Fica uma nostalgia, pelo menos na esperança dos melhores momentos: a gente na praia, apertando a mão no meio da rua, seu colo no CCBB, as promessas de amor ao ar livre, o gozo enredado de muitos “eu amo você”, a certeza cega, a flor em cima da cama, casa da mãe, casa do pai, rodoviária, andanças, silêncios. Clarice me perguntando “O que a gente faz depois que é feliz?!” eu não sei! Depois que a gente é feliz o melhor seria levantar a cabeça e fumar um cigarro no Arpoador. Mas agora não foi assim, chorei um pouco e me arrependi. Senti um pouco de culpa por ter escutado tanto, relevado mais ainda. Adormeci um pouco, parei de comer e li Ana dizendo: Agora, imediatamente, é aqui que começa o primeiro sinal do peso do corpo que sobe. Aqui troco de mão e começo a ordenar o caos.” Ordenando as feridas e estancando o sangue. Mas tenho a certeza de ter sido limpa, inteira, entregue, isso me ajuda um pouco. Idiota! Sinto pena de você, uma pena de dar dó. Isso me ajuda também. Não foi agora e não foi dessa vez que encontrei a pessoa certa. Não, não é você. Assim com esse seu jeito misterioso, meio falso, ruim, mentiroso. Não, não é você, cheio de traições e deslealdades, não é você. Arrumei as malas, tomei um banho e cortei os cabelos. Pintei as unhas de preto, comprei um Ray-ban prata, peguei um livro e uma maça, continuei.
Deslizando do meu jeito = voltando a ser.
Uma margarida na sala, janelas abertas e um monte de amigos apoiando a viagem. Dedo calejado, espinha quebrada, parede manchada de merda. Matei você, arranquei com minha escavadeira de ouro essa faca que cortava meu útero. Abortei. Usurpei a força de sua forma escura, deixei la dentro meu amor romântico, minha fé exagerada. Comi uma jabuticaba fora de época, comprei sal pensando que era açúcar e no final descobri que era soda caustica. Engasgada e cheia de enjoos, foi só o que ficou da despedida ignorante, fraca e sem esforços. A lembrança boa, o cheiro de alecrim, os incensos de boa esperança, o vaso de jasmim, plantei, coli e deixei aqui dentro, curando o espaço vago e insensato que você cultivou dentro de mim.
Quero amanhecer com bons ventos acalentando meus machucados. Levar cada hora na ponta do dedo, observando o espaço, cuidando da espera e embalando o sono sem insônia, que a tempos não sai daqui. Vou beber muita água e tomar sol antes das 10h. Acender vela, ler a bíblia, e pedir a Deus: “Livrai-nos do mal, amém”. Organizar o caos que você deixou, dar silêncio para os tormentos que você criou, beijar minhas feridas feitas por você e principalmente cuidar de mim. Me encontrar de novo e abandonar completamente você.
“Solta as unhas do meu coração...”