segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Areia


Quando você voltar eu te conto uma história.
Eu te mostro um caminho, um carinho, uma flor...
Quando o riso fizer morada eu perco o mal humor.
Quando tudo parar novamente eu fico, e vai me bastar aquela inteireza completa de “Pra Sempre” ...
...É só isso meu amor.
Não chora...
Dói, eu sei... mas no palco passa, no colo arrefece, no sono se esquece....
Estarei sempre aqui, mesmo sem cor!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Uma história de rosa


Tinha nas mãos um pedaço de rosa morrendo...
Não que tivesse medo de si...a rosa amainava tudo, ou quase tudo, mas doía!
Sentia de longe o cheiro de alho queimando.
Os pés eram frios e seu peito arrefecia-se quando chegava a lua!
Descobriu então que as pessoas mentem.
Ouviu dizer que as pessoas mudam... e se mudou inteira!
Vomitou na rosa, e pela rosa, suas palavras doces, amargas, cruéis e cruas.
Silenciou-se..
Afastou-se...
Desejou coragem pra amassar a rosa e mata-la de vez, uma pena não ter conseguido!
Uma pena não conseguir deixar de olhar pra trás, deixar de ver as outras rosas finas e feias, belas e vivas, secas e mortas.
Na frente sua mão sangrava de tanta rosa. Ela estava viva!
Lambendo seus tornozelos, apareceram os cães.
Tinha mais medo das rosas do que dos cães...mesmo que eles lhe comessem inteira.
Tinha mais medo das pessoas que mudam e das pessoas que mentem.
Tinha nas mãos uma rosa de medo.
Tinha nos pés um cachorro lambendo.
Passou a se perceber ofegante.
Respirava com o peito antigamente arrefecido.
Com a rosa quase morta nas mãos ela enfraqueceu-se
Os cães mantinham-se no ato de lamber, de todo seu corpo e alma, aquela era a parte mais bem cuidada.
O espaço era frio e com cor de mel
O céu era imenso
A rua era curta
A casa estava fechada
O medo da roda morrendo nas mãos
O cuidado dos cães lambendo seus pés
A respiração rompendo em soluços
O choro pela morte da rosa que não vinha
O medo de ter mudado muito, de ter mentido pouco
O silêncio gritando nos ouvidos
...
...
...
De dentro do seu estomago surgiu uma cobra, uma cobra grande e transparente, essa cobra tinha mãos e nelas carregava rosas, infinitas rosas, rosas vivas e grandes. Uma cobra com cara de cão, uma cobra com pele de criança recém-nascida, com olhos de cego e boca de peixe. A grande cobra circulou sob seu corpo, adentrou nos cabelos, na vagina, nas pernas, no nariz. Uma luz brilhante e com cor de girassóis recém-colhidos explodiu do seu peito.
...
...
Ela sentiu amor
E foi ali mesmo que abandonou a vida
Secou primeiro que a rosa
Dormiu primeiro que todos os cães
Depois do amor, mas junto com a morte, ela silenciou-se eternamente.

domingo, 21 de agosto de 2011

Para Vocês

Eu queria que fosse lindo acordar, todos os dias, uma vontade imensa de querer a vida, um desejo florido de amanhecer. Um brilho, um amor, um carinho....
Quando eu era pequena brigava com meu irmão pra passar o final de semana na casa da minha avó,  eu sempre ganhava, eu sempre ia, e naqueles dias eu mal conseguia dormir direito só esperando o sol brotar na janela e a brasília azul da minha avô estacionar na porta de casa, aquela casa de caminhos de terra, paredes bem pintadas e vazios pelo canto dos quartos... era tudo mais simples. Eu gostava de estar lá, deitada no colo da minha avô assistindo A Praça  é Nossa, no SBT, não me importava o significado, eu só sentia o colo quente, o amor na mão dela mexendo nos meus cabelos, e meu coração acalentado.
 Eu gostava de brincar com a mangueira na rua, molhar a varanda inteira, as plantas a calçada, o cabelo, as pernas, eu ria tanto, ria de tudo, aqueles  pés gelados no asfalto, uma certeza de milagre nos olhos da minha avó, eu a amava, e era esse o motivo de tudo.
Me lembro quando fugi de casa, naquela época minha avó tinha ido morar com a gente, em fugi em uma manhã fria, antes da escola, voltei na noite de sábado, quando coloquei a bolsa em cima da cama, depois de ouvir o sermão da família toda, minha avó me abraçou e me disse: “Você fugiu porque eu vim morar aqui com vocês?se você quiser eu me mudo!”. Ela só não sabia que o motivo de ter voltado era ela.
...Agora eu só queria um motivo!
Gostava dos bolinhos que minha avó preparava pra gente, da pamonha de sal, do feijão, dos doces, do mingau de milho, dos almoços de domingo... eu sabia que ela me amava tanto....tanto... era lindo... eu gostava de pular na cama enquanto minha avó preparava a janta, gostava de fazer massagem nos seus pés finos e bem cuidados.
Naquele tempo eu subia em árvore, corria na rua, brincava com meus irmãos. Dava leite pro Vitim...
(por impotência, escolha, medo, raiva....eu ainda não sei, me distanciei de tudo, de todos, e o que sinto é uma solidão imensa nessas tardes de domingo, nesses feriados ruidosos e cinzas...)
Quando minha mãe esteve doente eu senti uma falta imensa dela chegando mal humorada do trabalho e pedindo pra gente arrumar o quarto.  Eu sentia falta dela naquelas tardes simples de sábado... minha mãe tinha cheiro de maracujá nos cabelos, minha avó tinha cheiro de alecrim...
(às vezes é mais fácil fingir que não foi difícil, que não faz falta, que esqueci... mas às vezes, subitamente, me lembro de detalhes tão simples... rodeados de amor... e dói tanto)
Eu e o Vitim, pegávamos um ônibus e ficávamos dando voltas e voltas pela cidade, tomávamos sorvete escondido, na conta da minha mãe, voltávamos pra casa e íamos brincar de qualquer coisa no jardim, tinha dias que eu me pegava olhando pra ele... e minha alma esquentava tanto...  não importava o resto, aquilo valia a pena.
Eu e o Dede éramos inseparáveis, ele de Dezembro e eu de Janeiro do mesmo ano, 1987. Teve um dia que meu pai veio na escola me dizer que meu irmão estava internado, eu chorei muito muito muito, fui direto pro hospital, quando cheguei lá segurei a mão dele e disse: “Seu bobo, desse jeito você seca meu coração!”, dei um beijo na bochecha dele e voltei pra escola, eu sabia que ele ficaria bem.
(quando cheguei nessa nova cidade, o que mais doía era a falta do Dede me enchendo o saco antes de dormir, “Dada, faz carinho com o palito de dente nas minhas costas?por favor por favor por favos...faz?” eu fazia...)
(Não foi pra morte que perdi todos eles...que perdi tudo isso...foi pela ânsia de um desconhecido aparentemente prazeroso, aparentemente seguro, aparentemente meu)
...

...

...

Tem alguma coisa doendo muito aqui dentro, alguma coisa que não encontra motivo...
...
Quando eu era pequena meu pai costumava aparecer na casa da minha mãe as 6h da manhã, eu e meu irmão pulávamos a janela e íamos pra casa dele tomar café da manhã. Duas horas depois min há mãe aparecia brava e buscava a gente, eu e o Dede olhávamos um pro outro e riamos... naquele olhinho tinha tanto amor e cumplicidade...era lindo!
(mãe, me desculpa?!por tudo que não fiz, por tudo que fiz de errado, por tudo que deixei passar...Eu te amo tanto!)
Eu queria dizer pra vocês que hoje eu escolheria ficar, eu escolheria o aconchego da família, a confusão dos parentes, o colo da minha avó. Escolheria ver o Vitim crescendo, o Dede casando, o meu pai tendo outros filhos, a minha mãe reclamando da casa suja e me amando nos seus quase diários silêncios. Hoje eu não teria ido embora...e deixado pra trás meus motivos...
Eu queria aquele amor de domingo mãe.... só isso!
“Você dizia: Não é amor de menos, pelo contrário, é amor de mais. “

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Espero...

O que foi que fiz, o que foi que fizemos. As noites chuvosas e nós na cama, o dia ensolarado entrando pela janela e a gente se escondendo embaixo do edredom.  A vida correndo e a gente andando lento aqui dentro. Tempo... Tempo...Tempo... Meu sufoco de existir embriagado pelo cheiro da sua pele, minha desistência sendo colocada a prova, meu desejo se misturando com o gosto leve do amor.
Uma dose de fé no fundo da descrença...
Uma dose de confiança no corpo da dor...
Uma dose de esperança nos braços da desilusão....
Um amor imenso.... em uma dose única e completamente letal meu bem... O que foi que fizemos? Um pouco mais atormentada eu sigo tentando, como sempre fiz, mas tenho ficado velha, velha de mais pra tanto.
Meus olhos dormem e eu só vejo você, mas com uma pontada de dor acordando pra quinta, pra sexta, para o sábado...domingos e feriados! Sem pecado legitimando a falta, mas somente  o desejo legitimando a espera...
Eu espero...
Por mim.... por nós....eu espero....
Até que chegue segunda.... e ai....

Fui, foi...Fiz!


Voltar pra realidade é sempre um sufoco desconfortável. Principalmente quando se tem a certeza de querer viver perto, a vontade de querer abraçar ao longe e a necessidade de fantasias amorosas espiando você da varanda. Retirei do tempo, e de qualquer uma dessas coisas que chamamos de “congruente” ou “ legitima” ou até mesmo “certa” minha parcela de fantasia-necessaria-que-fazia-falta, comprei as passagens e fui, de mala vazia, peito quente e coração com vontade de flor amanhecendo em mim. Assim fui, e por ai vou, sem o medo de todos ou o pavor de muitos, sem a culpa em mim, sem a falta da minha amiga contradição, porque de uma coisa eu sei, uma só que seja.... A contradição anda de mão dada comigo, aparecendo quando menos espero, e me dando um carinho abafado na nuca. Eu carreguei nos braços meus desejos antigos, um peso leve de tão pesado, e de tão pesado um peso bonito... voltei pra casa dormindo nos cantos, apoiando em paredes, cansada de todos esses: “Você não devia”. Mas feliz com todos os meus: “Eu fiz”

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Eu fui....

...eu quis!Mas deixei de querer quando aquilo se estendeu em mim de uma maneira tão ampla que um simples suspiro me deixava sem ar.
Eu fui!Fui a melhor parte em todos os dias, em todos aqueles pedaços de silêncio na rede...Um sol alaranjado e doce adormecendo na varanda.
Eu dei!Dei tudo que tinha mesmo sentindo as mãos secas e os olhos brotados de lágrimas guardadas pelas feridas passadas.
Eu amei!Amei seu mais saboroso regaço, amei as amêndoas,  os eucaliptos,  as begônias e os alecrins que, nem sempre, sobreviviam ao meu esquecimento de água.
Eu perdi!Perdi pra dor a vontade de uma tentativa qualquer, o sorriso largo e a cama molhada nas madrugadas do nosso suor.
Eu abri!Abri o sonho da minha alma latente, mesmo perdendo eu ganhei a calma.
Eu acreditei!Acreditei nos nossos pés cheio de flores, na minha imagem refletida no espelho velho da sua casa nova, no cheiro doce que acalentava meu peito amargo, cheio de melancolias artesanais.
Eu tentei!Tentei até a última gota pingando do filtro de barro, até o último carinho descolado do olhar sem brilho, até o último medo de ter perdido....apesar de carregar sempre uma boba certeza de um céu eternamente estralado, e de um boca calada adormecendo no meu peito quente e dolorido de tanta alegria que uma dia eu quis.

domingo, 7 de agosto de 2011

Amando um pouco da minha solidão

Não sei de que parte me dói toda essa solidão, mas dói. Chega a apertar a garganta de um jeitinho tão sufocante, que mesmo sem perceber o choro brota no canto dos olhos. Quase oito anos.... e pela primeira vez  tento seguir os conselhos do Rilke “...ame a sua solidão, suporte as penas que dela vierem, e, se essas penas lhe arrancarem queixas, que sejam belas essas queixas.” Difícil ver tanta coisa bonita com esse aperto corroendo a garganta, mas tento, tento todos os dias, como uma batalha que escolhi manter, apesar de.  Apesar de, eu continuo, acreditando ou não, eu continuo, sozinha ou não, eu continuo, com ou sem fé, eu continuo sempre, porque mesmo sentindo a alma sorvida da falta dessas forças , carrego no coração um amor imenso.  Um amor pela escolha feita, um amor pela coragem de tentar, uma amor pela solidão que dói, mas me alimenta...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pedaços

Adentremos mais uma vez as relações lascivas e incongruentes. Um vinho pra sorver a boca de uma embriaguez momentânea, mas estritamente necessária.  Sem rumo, me encontro mais uma vez na estupidez de um amor perdido pela falsidade da entrega, mais uma vez perdida pela fé ao retorno. Não retornamos, não retornarás, o que importa? O copo cheio, a alma fugida, os olhos pequenos, o pé doendo e a mão queimada.  Preciso de um grama do melhor pó, uma bola de maconha boa, um minuto de Caetano Veloso, um pico da mais maravilhosa morfina, um litro do melhor vinho, um doce e um maço do melhor cigarro. Um papel e uma caneta, alguns poucos momentos de choro, outros muitos de uma solidão abençoada pelo vento da noite frustrada, nada mais me come, nada mais me basta. Frustrada! Arrependida! Esse tapete, esse copo e essa sala me trazendo lembranças da certeza que nunca foi concluída, da vontade que não valeu de nada, do medo engasgado na garganta fudida, da planta morta, da briga sem sentido, do fim, do fim, do fim, do fim... Do fim que não chega nunca! Cansei de retornos e novas promessas, nova fé, novo caminho, novo brilho apontando pela manhã bem cedo no canto dos olhos... ”Pra que rimar amor e dor.”
Meu alecrim tomando chuva lá fora, minha impotência de salvá-lo, meu desejo sendo corroído pelas esquinas do tempo, minha angustia sendo alimentada pela falta, meu sonho escorrendo junto à gota da janela. Meu frio com sede, minha cama com medo, minha casa enraizada na crença de sei lá o quê. Meu cheiro de rosa queimada, minha cobrança austera, minhas mãos que não cansam, minha couve murcha na geladeira,  meus sonhos....ah, meus sonhos....Eu tive vontade um dia, uma vontade muito verdadeira adormecendo junto aos meus pensamentos diários, um cheiro de vida correndo na felicidade de um sorriso extremamente sincero, mas não encontro esses pedaços  doces de querer seguir, desde o dia em que perdi a chave de casa, e junto dela aquele chaveiro com a imagem de amendoeiras sendo colhidas por Deus.  Onde foram parar minhas acácias? Meus lírios? Meus aromas artificiais de Rosa Branca? Onde foi que deixei a ingenuidade? Onde larguei minha fé?