Sinceramente o mundo me assusta,
é impressionante perceber a bola ensimesmada que cada um cria seu umbigo. As pessoas
vivem como zumbis, gelados, sem brilho no olho, seguindo um som de TV ou uma
propaganda colorida de um outdoor. Não sei mais o que é teatro, não sei o que é
arte, não sei o que é educação, não sei o que é saúde, não sei o que é justiça,
não sei o que é consumismo, não sei o que é generosidade, não sei o que é ser,
o que é merda e o que é diamante, muito menos qual vale mais e qual vale menos.
Existe um crime sendo cometido contra a humanidade e parece que ninguém
percebe. Minha garganta fecha e eu seguro o choro e o pavor, para parecer menos
ET e mais gente. GALERA TEM GENTE COMPRANDO UMA CALÇA DE R$300, ENQUANTO UMA
PESSOA VIVE O MÊS COM R$200. TEM GENTE GASTANDO DINHEIRO COM BRINCO DE OURO E
GENTE CONTANDO AS MOEDAS PRA COMPRAR O ALMOÇO. TEM GENTE QUE DORME EM LENÇOL DE
PENA DE GANSO E OUTRA PORRADA DORMINDO EM PAPELÃO. Ok! Uns são privilegiados e
outros não, ok! Uns estudaram mais e outros estudaram menos. Ok! Uns morrem de
amor e outros morrem de fome. Ok! Uns adoram falar sobre Paris e outros adoram
falar de como são desgraçados-perdidos-melancólicos-depressivos-desprivilegiados.
Ok! Uns tem liberdade e outros abusam dela. Ok!é preciso não ser radical e
compreender o paroxismo da vida. Ok! Eu não faço absolutamente nada, como bem,
tenho casa, comida, maquina de lavar roupa, cachaça e cigarro. Ok! Tem pobre
que mais parece rico e rico que mais parece pobre. Ok! Conheço gente com o
coração imenso que tem tudo, mas também conheço gente com o coração imenso que
não tem nada. Conheço gente medíocre que adora se vangloriar da esmola dada na
esquina, mas conheço gente que da em silêncio aquilo que não tem, aquilo que
falta, aquilo que o outro grita sentir tanta falta que os tímpanos estouram
como balões imensos cheios de vazio e ar. Detesto julgar as pessoas, cada um
sabe o tamanho do que tem, o tamanho do que pode, o tamanho do que é. Não quero dizer o que aquele ou outro deve ou não
fazer, porra... A vida é sua, o dinheiro é seu, ninguém sabe da minha dor e eu
não sei da dor de ninguém. Meu grito é mudo, um grito para dentro, o grito em
silêncio, uma voz rouca carregando um corpo que simplesmente não sabe mais.
Tenho pânico, é disso que tô falando. Tenho pânico de ver essa injustiça
floreada, esses discursos maquiados de falsas dificuldades que impedem o mundo
de tentar mudar alguma coisa. Tenho medo, muito medo de ver as coisas indo por
um caminho que assassina o amor. Tenho medo de ver tantos artistas sem
personalidade cuspindo Che Guevara, Roberto Freire, consumismo, Clarice, amor,
politica, democracia e justiça, como se tudo não passasse de um discurso
simples, que morre em contato com o oxigênio. Coloco-me nesse bolo, e tenho medo desse” eu”
que eu gostaria que fosse diferente, mas pela impotência que me algema sem
saber de onde e por onde, me amordaçam na tentativa de fazer diferente. Não sei o que fazer. Na verdade, não sei se
consigo fazer aquilo que sinto vontade de fazer, sinto como se explodir
causasse tanto dano que o melhor é permanecer nesse buraco pequeno e medíocre que
criei pra mim. Sinto-me medíocre, me sinto uma merda qualquer que não consegue
fazer absolutamente nada pra mudar qualquer coisa. Não me amo, porque me amar
seria uma afronta ao lixo que sou. Sou um lixo porque me mantenho matriculada
em uma universidade injusta, morando em uma casa com um aluguel injusto,
recebendo um salario injusto, fazendo um teatro injusto-pseudo-intelectual-julgo-cult-sem-sentido-a-tudo-e-todos-que-não-sabem-o-que-fazer-para-obter-uma-vida-mais-digna-e-limpa.
Sinto-me um lixo porque tenho medo de falar, medo de fazer, medo de não conseguir.
MEDO! MEDO! MEDO! Medo de uma coisa sem nome, uma grade imaginária, um sistema
que não existe, um país que me grita que está tudo certo e eu preciso VENCER!
Tenho medo de pessoas que não sei se existem, das leis de “incentivo”, do
dinheiro eletrônico, da educação e seus alunos que jantam e almoçam nas escolas,
porque em casa só encontram ratos e na cama um irmão doente que não consegue
atendimento no SUS. Tenho medo do que aconteceu em Pinheirinho, tenho medo do
que acontece da câmara de deputados, tenho medo de Deus, tenho medo do
prefeito, das prefeituras, do senado, dos chefes, dos donos, dos empresários,
da coca-cola, da poluição, do aquecimento global, das empresas de alimentos,
dos shoppings, da rede Globo, dos jornais, do fecebook, dos milionários, dos “artistas”,
do capitalismo, da pobreza, da miséria, das indústrias farmacêuticas, dos
patrocinadores, do lixo, do Mc Donald, da Adidas, dos mentirosos, da solidão,
da dor... Medo do medo. Medo do que eu sou e medo daquilo que eu gostaria de
ser....