Quando eu não sou eu as violências me atacam de uma maneira tão dolorida, isso tudo por causa de uma sombra. Desde que eu nasci, eu aprendi sobre a falta, um peixe que causa pânico. Qual peixe causa pânico? Aquele com uma aparência fora do comum. Ser comum. Eu nunca me senti comum, eu nunca quis fechar as pernas, minha mãe odiava meu jeito e me dizia sempre que fui trocada na maternidade. Uma família branca, pobre, do interior de Minas... Cheia de privilégios. Minha família missigenada que não conseguiu sequer indentificar o estupro familiar. A violência dura de violarem seu corpo constantemente, dói demais, a gente se sente na inexistência. Sempre me senti inexistente. Eu não pertencia a nenhum lugar até o dia pisei no teatro. Aquele chão de taco salvou minha vida. Minha mãe me acusou de ladra e órfão. Meu pai tentou pegar nos meus seios e me ensinou, muito pequena, que as pessoas que moravam na rua eram exatamente igual a nós. Meu pai, um bolsonarista frustado fã de Raul Seixas, ele e seus amigos gays (só entre a gente que se lê, eu sempre soube que meu pai era um gay artista e q eu não poderia ser igual ele pq a frustração enrrigecia o amor, e eu, De alguma maneira.... Entendi o amor. Meu pai, um homem pardo, filho de indiginenas, bruxos [sim, no masculino, meu bisavô era um bruxo discípulo de São Cipriano] escravizados e portugueses, a clássica história é minha ancestralidade. Uma branca privilegiada, e eu sei o quanto isso me faz estar aqui agora e .
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Eu vivi, cresci e me estraçalhei questionando o que era verdade e o que era mentira. Isso sempre foi a maior questão da minha existência, pq me lembro muito pequena duvidando da existência.