quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Vazia

Eu vivo fazendo planos, preparando o dia seguinte. Tento organizar as tarefas, definir os rumos, desenvolver uma espécie de preenchimento dos vazios. Não suporto ficar vazia, mesmo sozinha arrumo motivos, as vezes eles bastam, as vezes não. Tenho medo de dormir, e não é pelo sono, mas pelo dia seguinte. Inventar tarefas me cansa, inevitavelmente. Fico acordada alimentando ansiedades, recordando problemas, cheirando vazios e faltas. Sempre falta. Então eu bebo, bebo um pouco além da conta, cigarros, milhares de cigarros, uma invenção de atividades inúteis e frágeis. O silêncio perdura enquanto escrevo na agenda as desculpas do dia seguinte, enquanto escrevo o silêncio aumenta, outro cigarro, outra taça de vinho, e o silêncio ali, me provando que não existem tarefas capazes de aniquilar o vazio. Me sinto tão imbecil. Prendo os olhos nas coisas, desejo que a noite nunca acabe, que o sono não tome conta, para que outro dia não comece.... Tudo de novo, tudo outra vez. Amanhã vou arrumar as coisas do quarto, da sala, lavar a louça, limpar o piso, tirar a sujeira do banheiro. Depois vejo um filme, leio um livro, vou ao teatro, volto pra casa.... e então outro dia, outras tarefas, e depois novamente, e depois outra vez. O silêncio do vazio grita. Essa falta de sentido em tudo, absolutamente tudo. Comprei uma agenda nova!Canetas novas! Um quadro e uma caixa de giz! Preciso preparar os dias de janeiro...

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