quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
Martelando em Dó
Paro ao por do sol, um café e Debussy. Meu coração acelerado sente tanto medo de sei la o que. Tem dias que as recordações me sufocam, não consigo existir. Um dia, não sei qual, vou ter silêncios mais tranquilos de coração, e nesses dias não existirá espelhos que me bastem, só uma pequena certeza de ser eu mesma. Daí em diante vou respirar como um bebê, e nada, absolutamente nada irá afogar meu coração. Ansiosamente eu espero, uma vida toda, uma vida inteira tentado existir no amor. Minhas memórias transbordam ininterruptamente, um derramamento de incertezas, falhas, esquecimentos, borrões. Debussy martela em dó, suaviza e acaricia a ponta dos dedos, as bordas do coração. Um coração de sangue em formato de céu, quem disse isso? Não da mais pra saber o que é realidade, é nesse instante que tudo se desfaz como um papel embebido de café, frio e sem açúcar. Perdi toda minha capacidade de esperança, os dias seguem secos e cruéis. Pessoas podem acabar com nosso sossego, reaparecendo feito fantasmas hipócritas em uma noite mal dormida. Sua escrotice me espanta! O cheiro podre que escorre do que fomos me da náuseas e ânsia de vômito. Amizades, vez ou outra, tornam-se tão perversas, escondendo-se feito traça no canto escuro de uma caixa de papelão. Você enfia os dedos entre os buracos, procurando uma foto, uma lembrança, e é mordido pela existência catastrófica de uma amor. Alguns amigos morderam minha nuca, outros arrancaram meus calcanhares com os dentes, os primeiros eu perdoei, esses outros, ahhhhhhh, esses outros eu matei! Mas essa lembrança infernal que não deixa de martelar em dó... Como se houvesse perdão, como se fosse possível uma esperança. Imbecil! Meu coração imbecil chega a doer na xícara de café, e é nessas horas que eu me sinto um animal irracional, completamente sem bordas. Ninguém pede perdão, ninguém pensa em voltar. E esse som se mantém martelando em dó, martelando em dó, martelando em dó... ininterruptamente, até que morram as traças e junto delas toda e qualquer possibilidade de esperança.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário