A insônia é um bichinho grudento, pegajoso e torturante. Quanto mais os olhos se abrem mais difícil fica fecha-los. Dói a retina, e a madrugada segue na sequência arregalada de pensamentos infrutíferos, amargos, desesperançados. O sol começa a nascer e o dia segue meio cinza, meio sem sentido, meio a contramão. Então os pensamentos se instalam no deserto do não se sabe, do não ser, do inexprimível. E nesse dia a vida pesa feito chumbo. Nessas horas alongadas o desespero é dócil, uma película enferrujada estacionada na frente de tudo. Escuto as buzinas, observo a senhora que vende milho e a delicadeza da sua mão me emociona, mas a empatia me deixa sem pernas, desfaleço. Mundo bruto. Mundo seco. Mundo sem mundo, sem corpo, sem nada. Talvez eu esteja doente, meus cabelos caem e no chuveiro eu me assusto com aquele bolo nas mãos. Minhas mãos tão secas, duras, enferrujadas. Talvez eu durma depois de tudo. Talvez eu consiga cerrar os contornos dos olhos. Talvez minha mão me sirva de companhia embaixo das cobertas. Talvez eu simplesmente não faça nada e espere a exaustão desse cotidiano tedioso. Talvez eu pule da janela. Talvez eu tome uma cachaça as 8h e passe o dia bêbada rindo do meu ridículo. Talvez eu consiga dormir e essa melancolia permaneça embaixo dos fios da cama.
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