Maristela gritava de dor e pânico. Sua solidão ardia. Era composta de pedaços mal feitos, quem a construiu esqueceu-se de ditar as formulas de manuseio. Nossa pequena boneca carregava no peito aqueles insetos enormes que denominava “A dor”.Aquilo tudo parecia abstrato de mais, mas nossa pequena menina sentia. Mesmo gritando, se escondia. Tinha medo daquela loucura que a rodeava, assim como as formigas espreitam os doces esquecidos na mesa. Sua cara era comum. Matinha uma bela aparência apresentável. E naquele instante de descontrole aceitava dentro de si a insanidade. As perguntas no cérebro não sessavam, constantes ataques de horror. Isso não é humanidade? Se perguntava ela sempre que perdia a si mesma. E todos os que existem sobre a terra não carregam em si essa inconstância de ser? Será isso loucura meu deus? Rejeitava qualquer forma de tratamento. Não que Maristela já tenha procurado um médico. Não é isso!Ela simplesmente se dividia em duas, e aquele eu composto de formalismos normais e aceitáveis socialmente sugeria a outra parte sua que procurasse imediatamente um médico. Mas nossa boneca dupla negava qualquer possibilidade de aceitação de um possível desvio de personalidade. Perguntava-se sempre se não somos todos muito loucos, perdidos em si..Desesperados. Talvez!Pra acalmar as perguntas ela tentava dormir. Insonias frequentes a perseguiam pela madrugada. E aquela mania de perseguição vivia arrastando nosso pequeno bibelô a um estado de depressão profunda. Mas sua dupla, seu eu que se dividia, sua companheira que criou para si, que tinha o mesmo nome, a mesma altura e a mesma idade, acabava se tornando uma especie de amizade fiel. Aconselhava Maristela como se aconselham os filhos, o problema é que nossa menina não ouvia. Não, não é isso!Ouvir ela ouvia, sim, mas negava qualquer instancia de argumentação alheia, e pra agravar a situação o advogado de defesa e de ataque, não era nada mais nada menos que ela mesma. Vivia se confundido com a maneira que escolheu de definir e de agir. Por hora mantinha um comportamento sensato, mas no momento seguinte era mergulhada na duvida perniciosa e delirante. Pobre menina, nem sabia direito onde colocar os pés. Talvez isso seja normal, é talvez!dizia nossa pequena moça para si. Não que ela não fosse uma pessoa normal, mas se perguntava de mais sobre isso, e perguntas em excesso confundem nossas cabeças doentes. Metade dela trabalhava feliz, queria casa, filhos, amigos. O problema central era diagnosticado na outra metade viva. Detestava tudo e qualquer coisa e se segurava com as unhas e uivava sempre quando os insetos à atormentavam incessantemente. A grande questão aparecia quando a parte inferior de si se questionava sobre os insetos. A solidão gritava como recém nascido. Porque ambas as partes se perdiam nas respostas. Você acredita que um ser humano possa enlouquecer com consciência?
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