terça-feira, 5 de julho de 2011

Assim como Deus...

E era assim, sem perceber, as coisas se desfaziam em um piscar de olhos. Não se saberia dizer se o problema era ela ou essa implicância em sentir de mais. Todos os dias os pontos mudavam de lugar, em um instante tudo parecia tão certo de ser e existir, mas como poeira, uma simples ventania ofuscava aquela certeza, em meio a furacões e cigarros ela se desfazia inteira. Reconstruir-se  era um trabalho ardo-o e diário. Ela acreditava no amor, ela acreditava na vida, ela acreditava na possibilidade de um dia ser completamente feliz, ela acreditava na morte, ela acreditava, sobretudo, em Deus. Não aquele Deus de santos e anjos, mas um Deus que a embalava como a sinfonia nº29 de Mozart, um Deus de carne que sentia na pele, estranhamente arrepiava-se e logo saberia dizer, ele está aqui! E não que fosse isso ou aquilo, não que fosse Deus o seu salvador, ou aquele arrepiar-se inteira, não era isso. Aquilo que mais doía era a falta, não se sabe de onde nem se sabe o porquê, mas inexplicavelmente a falta existia nela assim como Deus se fazia presente no arrepiar-se-inteira-na-pele. Calafrios inauditos a persuadiam na escuridão da incerteza, e ela chorava feito criança abandonada na rua, ou gato abandonado na estrada, ela miava. Onde estava Deus nesse momento e seu arrepiar-se quase constante? Onde estavam suas vontades e sonhos felizes? Quanta babaquice! Era assim que pensava no momento de desespero inigualável.  Dócil, como uma menina de 16 anos penhorando seus pertences, ela continuava. Uma taça de Santa Helena, quase diariamente, alguns pedaços de chocolate, Vivaldi, Caio, Sylvia e amêndoas...pra não dizer outra coisa, ela se mantinha. Abstinha-se dos erros e das culpas, pra ver se doía menos, mas ainda assim a certeza não voltava. Da noite para o dia ela começava com arrepios pequenos que se estendiam para fortes calafrios, Deus tinha voltado! Por um mísero momento ela sorria, e em plena nostalgia de ser aquilo e não outra coisa, ela agradecia aquele santo Deus pela instável leveza do minuto, mas passava...Ela ia e vinha, assim como Deus, assim como ela, assim como aquilo, assim como a certeza, ela ia e vinha, sempre e constantemente. 

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