terça-feira, 12 de maio de 2015

Uma barata poeta

Queria tatuar duas frases do Manoel de Barros:

- Perder a inteligência das coisas para vê-las
- Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se

Hoje fui apresentada a um álbum tão qualquer coisa que eu não saberia dizer o que é.
Me sinto como aquelas pequenas teclas deslizando o contato com alguma coisa desconhecida.
Abandonei a poesia pelo simples medo de perdê-la. Ela me veio em horas de tanto desespero que perdê-la me deixaria mais perto da morte.
Nesse instante me consumi de novo.
Como a brasa do cigarro.
Como a fumaça do cachimbo.
Como a fina areia branca derretendo em sangue meu nariz.
Tenho me apaixonado tão pouco.
Deslizes, Manoel de Barros. Deslizes. Pequenos deslizes se alimentando do meu osso. Eu me sustento como? A carne é fraca!!!!A alma é pior ainda.
Agradeço a Deus que alma não precisa de osso.
Mas, eles doem.
Meu corpo pesa.
Minha cabeça não aguenta tanto corpo.
O peito se afunda um pouco, é de la daquele fundo onde se pode ver as arestas. Os curumichos. Os dragões. Uma poesia barata. Uma barata que almeja ser poeta.
Escorreguei pra dentro.
Sem osso pra segurar.
Não posso perder o desejo.
Não posso perder o desejo.
Não posso perder o desejo.
Perder as palavras pra me mostrar.
Perder-se um pouco pra tentar ser pluma.
Se enfiar com a cabeça pra dentro dessas coisas que ainda não sei onde ficam.
Me importar de menos.
Não saber é saber tudo.
Um corredor, uma janela e nenhuma porta.
A vista é alta demais. E o medo, as vezes, só as vezes, é pequeno.
Tem hora que prefiro medo grande. Tem hora que prefiro medo nenhum.
A gente não escolhe.
Ele vem ou não.
Ele vem ou não?
A espera desliga a surpresa.
Desliguei as luzes da casa, será que a surpresa me acha?
Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho...
Sempre achei bonito dizer: J-U-N-H-O
Junto.
Pego.
Apego.
Perdi o fio que segurava a coluna em pé.
Meus pés pesam dentro de mim.
Oco.
Oco.
Oco.
Tão barata essa menina.
Um barato.
Uma barata poeta.




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