sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Uma outra

Eu sou feito um bicho morto desajustado pelas esperanças da vida. Por mais que as coisas continuem existe um buraco que se afunda continuamente no meu peito, e eu perco o foco, eu caio feito uma fruta podre que não suporta o sol, ou as folhas, ou o horizonte, ou aquele vento fresco de fim de tarde. Eu perco o controle de tudo, meus dedos se enroscam feito larvas amedrontadas. Eu sinto tanto medo da solidão, tanto. Não é essa solidão de silêncio quando a casa fica vazia, mas esse vulcão que ferve no meio do meu peito e dói na carne viva toda vez que eu existo. Na maioria das vezes eu estou morta. Aquela outra Dayane que sabe lidar com a mudez manipula as cordas do boneco e eu ando, falo, gesticulo, la de dentro da caixinha escura eu observo o mundo, e eu sinto tanto medo. Deus espalhou  feridas no meu corpo, quanto mais o tempo passa mais elas crescem. Eu mantenho cada vez mais uma Dayane distante da outra, pra ver se pelo menos uma se mantem firme no proposito da vida. Enquanto isso a outra se afunda no infinito da carne do meu peito, mordendo os vasos, os nervos e engolindo o sangue podre que me resta. Vez ou outra consigo controlar o desespero, porque ele fica colado nos dedos que se enroscam, e essa mão eu deixo guardada nos meus pequenos pesadelos diários. Ela me olha insistentemente, com a língua pra fora, como se eu fosse um inseto prestes a ser devorado. Eu gasto toda minha energia tentando me manter de pé, não sei se vale a pena esse esforço, vou acabar sendo devorada de um jeito ou de outro, por mim mesma ou pela outra. Meu coração está pesado, e ele dói feito 1000kg de ácido quente derramado no meu colo. Se a Dayane escondida soubesse, ela nunca me perdoaria. Nunca!

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