domingo, 12 de março de 2023

mulheres

Tenho 36 anos, e morri três vezes na vida, que eu saiba e ainda me lembre.  A primeira quando me mudei pra BH, a segunda quando vivi o primeiro abuso emocional e a terceira foi agora, parece que em instantes o mundo desaba. Rápido como um raio, lá estava eu de novo em mais um relacionamento abusivo, qual o próximo? É difícil aprender, é difícil impor limites. Lá se vai quase um ano dessa terceira morte, e eu renasci infinita, e quase me esqueço de mim na partilha de um sexo gostoso. É difícil manter o prumo. Me dividi ao meio e todos os dias que me olho no espelho lembro disso, aquela Dayane que se deixava vitimar de abusos afetivos, não existe mais. Porém, ela tá aqui, espreitando minha vontade de amor. É gostoso e solitário ao mesmo tempo. É de doer a espinha, um redemoinho dentro e fora do meu útero ainda ferido. Aquela imagem não tarde em refletir tanto sangue, tanta dor e tanta vontade de morrer ali. Pois bem, estou viva! Desejando fazer da poesia um cuidado performativo, espero dessa forma matar a morte de vez. Essas mortes estando viva são de muita violência, difícil de esquecer e simplesmente seguir. Mulheres se arranham e continuam, o mundo adora chutar nossos pés descanços, e o sangue retorna, outra vez. Esses arranhões não cicatrizam e a gente aprende a conviver com a imagem do sangue e da violência, mesmo que pareça um pesadelo, aprendemos a seguir. 

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