Vive muito tempo cultivando minha
solidão. Compreendendo essa condição de contar moedas e almoçar sozinha no
domingo. Desde muito nova eu entendi que era impossível agregar meus sonhos a
casa e a família. Então fiz as malas e abusei dessa liberdade meio presa na
carência, amarrada na insegurança e na dúvida. Não voltei, nunca voltei… segui
adiante, acreditando que um dia a coisa toda faria sentido. Não fez. Não
naquela minha compreensão ignorante de sentido, mas uma outra, uma qualquer que
ainda não sei explicar. É difícil pensar que já deu certo, que ta tudo aqui,
recebendo e colhendo o que meu coração resolveu acolher. Mesmo que não seja só
flores, porque eu ainda choro sozinha sentindo saudade de um amor que deixei em
casa, porque ainda doí a falta da família e dos amigos de infância. Será por que
que eu já fumei maconha ou já bebi tanto até cair?! Por que eu pulo?! Por que eu
já pensei em me matar?! Por que peso tanto?! Sofro tanto e grito até ficar
rouca quando tô feliz?! Não sei … A vida
fez um pouco de cada coisa comigo, em dias de esperanças nulas e futuro incerto
o melhor é ficar doidona e rir da própria cara. Quando o amor não da certo, a
desilusão de uma pessoa carente é tão profunda, que ela pula em um buraco
escuro e resolve por vezes permanecer apagada, é mais fácil que enchergar o
fracasso no espelho. O que ninguém percebe é que pessoas assim esperam sempre
uma mãozinha no escuro, um pouco de amor e um olhar atento. Às vezes, ou
melhor, no meu caso, essa coisa de droga entra um pouco pra encobrir a solidão,
esconder o medo, afirmar uma outra realidade que não seja essa… vezenquando tão
amarga e tão cruel. Não tenho problemas profundos, mas tenho realidade demais,
e isso machuca. Carregar na cabeça essa história é coisa de macho, só que eu
nasci muito mulherzinha e tem dias que não dou conta, ai desabo a chorar porque
fulano ta sem grana, porque aquele outro não entendeu nada do que eu disse,
porque com aquela amiga não me sinto bem, com aquele amigo sinto demais e com
aquele outro me acho um lixo. Me sinto culpada por pensar na própria dor
enquanto tem uma porrada de gente apanhando, passando frio, fome, embaixo do
viaduto cheirando craque e desistindo aos poucos dessa coisa de sobrevivência.
Me sinto culpada e entrego os pontos. Desisto do jogo, faço as malas mais uma
vez e finjo acreditar nessa liberdade prisioneira. O bom desse meu monólogo é
que a coisa tem mudado, voltando a falar daquele sentido outro, a coisa tem
sido feita em uma fé que antes parecia não existir. Minha maior crença é no
amor, parece piegas… eu sei, mas é dessa coisa pueril e quase sempre derrapante
que vem uma força incalculável. Em dias de muito amor eu penso que posso. Que dou
conta. Que consigo. Um dia desses encontrei um ex namorado com sua atual
namorada, no meio de tanto nervosismo e aquela confusão e ansiedade de quem não
sabe mais como agir, porque por ele meu coração já se machucou, já sentiu
raiva, ódio, pavor… A única coisa que consegui sentir de verdade foi amor. Amor
pelo amor deles. Amor pelo meu amor por ela. Amor pelo amor. Segurei forte na
mão do meu Furacãozinho e agradeci a Deus por poder sentir e receber amor outra
vez. Desejei do fundo da minha alma que meu ex e sua atual namorada sintam o
que tô sentindo, tirei a alma e o coração do jogo e me entreguei a esse filme
romântico que vivo com ela. Falando dela eu dou uma pausa, acendo um cigarro e
coloco Caetano Veloso de fundo. Ganhei um presente! Ganhei um sentido! Ganhei
um amor!
De… “Quero dizer que te amo só de
amor. Sem idéias, palavras, pensamentos. Quero fazer que te amo só de amor. Com
sentimentos, sentidos, emoções. Quero curtir que te amo só de amor. Olho no
olho, cara na cara, corpo a corpo. Quero querer que te amo só de amor.”
Tenho medo de sofrer! Eu também…
Mas acredito tanto em você que
fecho os olhos e vou. Vou do seu lado e pra dentro de mim. Remexo nas feridas
antigas, revisito fantasmas e me prometo ser melhor e mais. Me permito ser
feliz… o engraçado é que essa é a parte mais difícil, ser feliz parece um
insulto a esse mundo injusto, mas com você eu posso, com você sinto que posso.
Não quero absolutamente nada de você, quero só te dar sorrisos e manhãs
melhores, te dar um pouco que seja dessa felicidade imensa que tenho sentido
todos os dias. Tudo que vivi até hoje parece ser a história necessária pra
viver esse agora, pra poder te amar de amor. Sinceramente eu viveria tudo outra
vez só pra poder estar nesse exato momento que me encontro, colhendo o que meu
coração resolveu acolher.
Agradeço a Deus as feridas, a
solidão, os medos, os amores que tive, a felicidade que ignorei, o tanto que
chorei, que acreditei, me joguei, o muito que errei, o pouco que reconheci, a
família que deixei, a falta de grana, a gana, o cansaço, a força, os amigos, as
perdas, as conquistas, e esse amor… esse amor imenso que cresce e abre janelas,
arreganha portas e me faz sentir a vida na sua realidade mais sublime,
maravilhosa e bela.
Tô feliz!
Tô amando!
Ta tudo ok por aqui!
Palavra de escoteiro! O maior
protege o menor!!!
IIIII

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