sábado, 21 de julho de 2012

Um dia de chuva


Em dias de chuva. Em dias de chuva seus sapatos ficavam sempre molhados. Em dias de chuva as árvores choravam tanto que as pontas das folhas pingavam. Em dias de chuva ela nunca lia, porque os livros se desfaziam com tanta velocidade que os olhos não acompanhavam a leitura. Em dias de chuva seus pés doíam. Em dias de chuva permanecia em casa. Em dias de chuva o silêncio cutucava a solidão. Nem sempre chovia em dias de chuva, mas era tudo tão cinza que a chuva vinha fina e invisível, esbarrando em peles e derretendo-se nas mãos. Em dias de chuva que choviam as gotas eram grossas e finas, atravessavam em um longo jato os tecidos, arrepiando a alma de frio e o corpo de lembranças. Em dias de chuva era preferível não ouvir músicas, pra secar um pouco a dor de dentro. Em dias de chuva tomava capuccino com nutela e fumava mais, muito mais que o de costume. Em dias de chuva as lembranças atormentavam e o silêncio de ouvir a própria voz fazia dos olhos um vazio triste. Em dias de chuva era preciso ter paciência, esperar o caminhar da madrugada como quem revela céu aberto e muito sol para a previsão do tempo. Esperar sempre que a chuva cesse, que o portão bata e ela apareça.

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