- Cê vai voltar realizada de lá.
Voltei, Sheila!
Voltei querendo cuidar, cuidar de cada canto que me é
importante. Voltei desejando menos álcool, menos medo, menos surtos, menos
cigarros e muito mais água. Muitas flores e incensos. Milhares de noites na
varanda e tantas manhãs correndo no sol quente. Voltei desejando o simples,
adindo a ansiedade e plantando minha horta. Então eu pensei que quando o amor
se derrete em suspiros cotidianos, basta. E bastar passou a ser suficiente. Há
de ser verdade esse céu mais azulado... Há de ser intenso essa terra entre a
carne e a unha.
A boca e a vagina são feitas das mesmas substâncias, ambas têm
fome.
Eu não sei o que aconteceu comigo, Sheila. Mas alguma certeza se assentou na sala, e por
lá passou a deslizar delicadezas tão perfumadas... Agradeço! Agradecida a vida
dos furacões e dos pulmões. Agradecida ao vulcão da minha infância e a floresta
da minha adolescência. Hoje meus pulmões pedem uma pausa, e eu sinto como se um
pedaço do meu corpo tivesse ficado para trás.
Aquela moça dançando de vermelho no meu quarto era eu. Era
eu e todas as mulheres que tem me cercado de pulsões, convulsões, expurgações.
Nossas curvas são feitas em conjunto. É difícil sentir o amor dentro da gente,
mas é como se eu me abraçasse por dentro e dissesse: vai dar tudo certo! E pela
primeira vez eu sentisse a realização dessa certeza.Ela não se finca como uma
estaca invencível, pelo contrário, essa certeza é lenta e maleável, escorregadia.
Mas ela me acalma e me faz sentir a chegada de novos ventos.
Que assim seja, Sheila.
Que assim seja!
Obrigada por existir tão intensamente nesse mundo.
"(Não fazia frio, salvo em ter que recomeçar a vida.) E tudo aquilo - toda esta frescura lenta da manhã leve, era análogo a uma alegria que ele nunca pudera ter." Fernando Pessoa
"(Não fazia frio, salvo em ter que recomeçar a vida.) E tudo aquilo - toda esta frescura lenta da manhã leve, era análogo a uma alegria que ele nunca pudera ter." Fernando Pessoa
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