quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Voltando pra casa

Depois de um tempo a gente retorna à família. Mais velha, com os dedos amarelos e o cabelo loiro, curto, mais penduricalhos na cara e rabiscos pelo corpo. Com o tempo aprenderam a me respeitar. Com o tempo aprendi a ama-los de um outro modo. As rusgas da mãe e o cansaço da avó derretem as armaduras dos últimos anos. Nos olhamos quietas, acho que compreendemos o peso do tempo. As falas parecem de outra época. Rimos de imbecilidades familiares, ficamos em silêncio quando o assunto é política.... Vez ou outra é melhor manter a neutralidade. Pararam de zuar minhas roupas, meus colares, minhas escolhas. Acho que eles entenderam que sou assim mesmo, devolvo o elogia às mulheres da casa, os homens ainda me dão uma certa náusea. Nossas mãos se parecem tanto! Tem também um certo jeito no sorriso, no canto dos olhos, no movimento dos braços. Eles não me conhecem! Também não sei muito dessas personalidades que ressoam passado e vínculos de sangue. As memórias retornam feito fantasmas. Depois que todos se deitam caminho pé a pé pelos corredores da casa, pela varanda e cozinha. Éramos bestas mulheres e meninas tentando dar conta do inesperado, do incompreensível, do não se sabe. Hoje a gente reconhece a semelhança nas curvas das mãos e no canto dos olhos, em silêncio a gente se respeita. É.... O tempo da cabo de uma porrada de dor!

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