quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pedaços

Adentremos mais uma vez as relações lascivas e incongruentes. Um vinho pra sorver a boca de uma embriaguez momentânea, mas estritamente necessária.  Sem rumo, me encontro mais uma vez na estupidez de um amor perdido pela falsidade da entrega, mais uma vez perdida pela fé ao retorno. Não retornamos, não retornarás, o que importa? O copo cheio, a alma fugida, os olhos pequenos, o pé doendo e a mão queimada.  Preciso de um grama do melhor pó, uma bola de maconha boa, um minuto de Caetano Veloso, um pico da mais maravilhosa morfina, um litro do melhor vinho, um doce e um maço do melhor cigarro. Um papel e uma caneta, alguns poucos momentos de choro, outros muitos de uma solidão abençoada pelo vento da noite frustrada, nada mais me come, nada mais me basta. Frustrada! Arrependida! Esse tapete, esse copo e essa sala me trazendo lembranças da certeza que nunca foi concluída, da vontade que não valeu de nada, do medo engasgado na garganta fudida, da planta morta, da briga sem sentido, do fim, do fim, do fim, do fim... Do fim que não chega nunca! Cansei de retornos e novas promessas, nova fé, novo caminho, novo brilho apontando pela manhã bem cedo no canto dos olhos... ”Pra que rimar amor e dor.”
Meu alecrim tomando chuva lá fora, minha impotência de salvá-lo, meu desejo sendo corroído pelas esquinas do tempo, minha angustia sendo alimentada pela falta, meu sonho escorrendo junto à gota da janela. Meu frio com sede, minha cama com medo, minha casa enraizada na crença de sei lá o quê. Meu cheiro de rosa queimada, minha cobrança austera, minhas mãos que não cansam, minha couve murcha na geladeira,  meus sonhos....ah, meus sonhos....Eu tive vontade um dia, uma vontade muito verdadeira adormecendo junto aos meus pensamentos diários, um cheiro de vida correndo na felicidade de um sorriso extremamente sincero, mas não encontro esses pedaços  doces de querer seguir, desde o dia em que perdi a chave de casa, e junto dela aquele chaveiro com a imagem de amendoeiras sendo colhidas por Deus.  Onde foram parar minhas acácias? Meus lírios? Meus aromas artificiais de Rosa Branca? Onde foi que deixei a ingenuidade? Onde larguei minha fé?

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