Tinha nas mãos um pedaço de rosa morrendo...
Não que tivesse medo de si...a rosa amainava tudo, ou quase tudo, mas doía!
Sentia de longe o cheiro de alho queimando.
Os pés eram frios e seu peito arrefecia-se quando chegava a lua!
Descobriu então que as pessoas mentem.
Ouviu dizer que as pessoas mudam... e se mudou inteira!
Vomitou na rosa, e pela rosa, suas palavras doces, amargas, cruéis e cruas.
Silenciou-se..
Afastou-se...
Desejou coragem pra amassar a rosa e mata-la de vez, uma pena não ter conseguido!
Uma pena não conseguir deixar de olhar pra trás, deixar de ver as outras rosas finas e feias, belas e vivas, secas e mortas.
Na frente sua mão sangrava de tanta rosa. Ela estava viva!
Lambendo seus tornozelos, apareceram os cães.
Tinha mais medo das rosas do que dos cães...mesmo que eles lhe comessem inteira.
Tinha mais medo das pessoas que mudam e das pessoas que mentem.
Tinha nas mãos uma rosa de medo.
Tinha nos pés um cachorro lambendo.
Passou a se perceber ofegante.
Respirava com o peito antigamente arrefecido.
Com a rosa quase morta nas mãos ela enfraqueceu-se
Os cães mantinham-se no ato de lamber, de todo seu corpo e alma, aquela era a parte mais bem cuidada.
O espaço era frio e com cor de mel
O céu era imenso
A rua era curta
A casa estava fechada
O medo da roda morrendo nas mãos
O cuidado dos cães lambendo seus pés
A respiração rompendo em soluços
O choro pela morte da rosa que não vinha
O medo de ter mudado muito, de ter mentido pouco
O silêncio gritando nos ouvidos
...
...
...
De dentro do seu estomago surgiu uma cobra, uma cobra grande e transparente, essa cobra tinha mãos e nelas carregava rosas, infinitas rosas, rosas vivas e grandes. Uma cobra com cara de cão, uma cobra com pele de criança recém-nascida, com olhos de cego e boca de peixe. A grande cobra circulou sob seu corpo, adentrou nos cabelos, na vagina, nas pernas, no nariz. Uma luz brilhante e com cor de girassóis recém-colhidos explodiu do seu peito.
...
...
Ela sentiu amor
E foi ali mesmo que abandonou a vida
Secou primeiro que a rosa
Dormiu primeiro que todos os cães
Depois do amor, mas junto com a morte, ela silenciou-se eternamente.
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