sábado, 3 de março de 2012

Entre cavalos os touros são cachorros azuis

(Para Camila Morais, uma mulher que, assim como eu, ama.)

Entre gritos e vômitos ela deslumbrou o amor. Carregou nas costas o peso do destino que às vezes nos trai. Retraiu pra dentro de si aquelas cobras traiçoeiras que rastejam milimetricamente e silenciosamente no chão, para abocanhar suas presas de pés descalços. Branca como a neve, desmanchada junto a poltrona escondida no canto direito da sala. Uma semi-luz ofuscando o olho  morto, pela vida que busca dentro, nós, meros espectadores do sofrimento físico e perturbações mentais que o amor pode trazer, assistíamos assustados o mostro dominando os dedos frios daquela mulher. Seu corpo era fel, das pontas dos cabelos surgiam laminas afiadas cortando racionalidades, seu corpo era quente, emanava pra fora um cheiro de fêmea no cio, pra dentro  afogava-se em amor. Seus cavalos touros transportavam o bicho selvagem que nascia pra longe de uma dimensão conhecida. Nem sempre o corpo dava conta,  os músculos decaiam como anjos crucificados, a mulher perdeu a noção entre magia e loucura. É preciso ter cuidado quando o assunto é amor, ele pode podre apodrecer dentro do estômago e sair jorrando vômito em quem quer que seja. Amor acumulado danifica a alma, deixemos que ele saia, como uma cachoeira sem rumo arrastando para o mar o que encontra pelo caminho. Teve força como somente as mães na hora do parto possuem, viu o monstro derrubando latas e quebrando garrafas, gritou feito bicho ferido a ferida que sagrava incessantemente. Era mulher! Era gente! Como tudo que anda e fala ela sentia, e sentir dói, dói pela falta de fôlego em atravessar a onda que afoga despercebidos.  Quanta beleza existe na desconstrução de uma mulher que ama, uma beleza fina e aguda, torcendo o tímpano de seres perdidos de si. Nossa mulher apagou! O show terminou. O que fica são os resquícios de um furacão que passa, uma tempestade que inunda tudo. Pequenos buracos e fendas no público inocente, entre cavalos os touros eram cachorros azuis, pensando-se “normais” eram as bestas mais propensas a insanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário