...De pés afundados o corpo se distanciava cada vez mais de si. Perdi a percepção do todo e me fragmentei em moléculas flutuantes sem sentido. Disseram-me que ia passar, que com o tempo a cadeira se encaixaria na mesa. Mentira, balela, ainda não me alcancei, estou ficando exausta de procurar procurar procurar procurar sentido em tudo nesse dia-a-dia que consome meus neurônios. Hoje apodreceu dentro de mim um pouco da esperança, não gostei do sol, não gostei da casca, não gostei do calor infernal queimando minha serotonina. Detesto esse sufoco que chega a abrir uma cratera em um peito que cansa. Já gritei, apostei na loteria, joguei no bicho, fiz poema pro menino Jesus, mudei a cor do protetor de tela, 10 cigarros a menos, 20 pensamentos destrutivos embotados na buceta, banho de manhã, doce de leite no fim da tarde, beijo na boca, novas promessas de amor, projetos, trabalhos, dinheiro, brigadeiro, 5kg a menos, depilei o anus, cortei as unhas, grudei chiclete no buraco do dente quebrado...quem disse que adianta?! Quem disse que adiantou?! O monstro ta aqui dentro, pedindo pra sair no meio da Afonso Pena ou pedindo pra ir embora, pra todos os lugares onde, supostamente, doeria menos. Doer menos porcaria nenhuma, doer mais até que o osso trinque e faça barulhos ensurdecedores nessa porcaria de vida que às vezes me enoja. Não, eu não sou pessimista meus caros colegas, é só que por hora cansei um pouco de sustentar o bom comportamento e a cara brilhante de quem precisa agradecer imensamente os presentes divinos que recebe dos céus. Sou putamente feliz no meu “Fantástico mundinho transitório”. NÃO ME PEÇA PRA PARAR!Não me peça pra escrever margaridas quando o que me corta são esses vermes que apareceram na minha cama pela madrugada. Faz dias que não bebo, tenho evitado pessoas porque minha vontade seria a de explodir cabeças e depois chorar no velório das pobres criancinhas órfãs e dos seus pais sem cérebro. Não sou capaz de matar uma borboleta, mas dentro dos meus sonhos saio cortando falos gigantes e regaçando bucetas gangrenadas. Posso ser doce, uma princesinha de mãos lisas e olhar melancólico, mas a banha pesa no meio da barriga, a gordura asquerosa dos hambúrgueres e bifes enormes derrete sobre minha pele quase fria, quase morna. Me dê um pouco mais daquilo que tenho certeza de necessitar, mesmo que depois eu chore pedindo mais, feito um bezerro que sofre de insatisfação crônica e não se cansa de chupar chupar chupar até pender as tetas de sua vaca progenitora. Me deem amor, me sufoquem de amor, me matem de amor, que entre duras lágrimas meus silêncios gratos ressuscitará no terceiro dia, feito milagre de pipoca de micro-ondas. Sou leve, só que hoje, de tanta leveza, afundei os pés e sai meio que querendo eles de volta.

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