domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ninguém sabe...


Depois de dois goles, sentada na cadeira do canto, fumando um cigarro, ela disse o seguinte:

- Ninguém sabe! Ninguém sabe como dói, ninguém imagina o que é sentir isso. Eu não gosto, não queria ser assim, não é uma escolha. Não escolho o peito apertado, a boca seca, coração na mão, esse peso no osso, essa tristeza sem espaço. Não é um botão que você aperta, você não pega o medo e a insegurança e joga no lixo. Você não arranca um sentimento como se arranca uma roupa, você não corta uma dor como se cortasse uma planta. A alma não é um gaveteiro de sensações e memórias, não se escolhe ser feliz ou triste, não se escolhe essa dor física da solidão. Não é gostoso amanhecer doendo, dormir tremendo, acordar de madrugada apertando de falta e saudade. Não é prazerosa essa insônia doída, esse coração esmagado, esse jeito torto de doer todos os dias. Eu não gosto de sentir tanto e se pudesse doeria pela metade. Não é bom ver a pessoa que você ama se afastando de você só porque você é insegura demais, maluca demais, triste demais. Não é bom ver quem você  ama dizer que se assusta, te pedir pra esquecer, te pedir pra guardar a insegurança em uma gaveta e seguir sorrindo. É uma luta diária manter a cabeça erguida e a coluna ereta, uma labuta manter o bom humor e a esperança. Não sou niilista, pessimista, depressiva, luto como uma onça pra manter a cara limpa, o peito aberto, a alma em paz. Não é fácil cada dia, cada hora, cada segundo. Não é fácil esse medo grudado no peito, esse pavor da solidão, do abandono, da falta. Tudo faz parte de um cansaço de alguns anos seguindo a mesma estrada, com a mesma esperança tola dentro da mala, alimentando as utopias e arrefecendo o coração. Não gosto desse aperto que sinto, não sinto porque escolhi, não escolhi que vez ou outra a ferida se abrisse e depois... ah, depois!

(silêncio)

Ninguém sabe de ninguém, algumas pessoas suportam, outras não. A dor maior é se tornar insuportável pro mundo. 

(ela apaga o cigarro e chora)

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