O que ela sentia era desespero. Verdadeiramente sem saber de onde. Acordava um pouco amassada, todos os dias. E sempre procurava fazer melhor. Procurava sempre aquilo que, de alguma maneira, iria fazê-la suportar aqueles dias. Às vezes ela sorria, mas isso era bem às vezes. Na maioria ela sentia culpa por quase tudo, e o desespero era saber que tudo, ou quase tudo, vinha de um enorme e não desejado erro seu. Ela se apertava inteira. Sua alma estava em pedaços. O corpo já não sabia pra onde ir. Os olhos eram frios. A pele era vaga. O coração sangrava sem dor. A respiração se descontrolava. O medo era constante. Seus dedos se apertavam contra a própria mão. E suas escápulas doíam. Trocou água por vinho. Ar por cigarro. Vontade por sobrevivência. Ela sobrevivia. Chorava tanto, e por qualquer motivo. Mas só ela sabia que aquele choro eram todas as histórias escondidas dentro dela, remoídas e não-apagadas. Não se sabe porque, mas ela pedia perdão por ter estado onde esteve. Ela pedia perdão por ter vivido o que viveu. Ela pedia a Deus que a fizesse esquecer, porque tudo aquilo doía tanto, e o que ela mais desejava na vida era não lembrar. Todas aquelas mãos que já tocaram o corpo dela, a enojava. Todos os bichos, todos os seres, todas as coisas que nunca à fizeram bem, se tornavam um nódulo nas costas. E como isso fincava. Ela sabia que poderia amar qualquer um. Isso ela tinha de bom, ela podia amar. Ela podia amar sem distinção. Ela podia amar até mesmo aquilo que não tinha vida. Um dia ela amou uma vaca, no outro uma ventania e depois os mendigos da praça. Mas como aquilo doía depois. Sem saber ela era qualquer coisa tão apertada que sempre se derramava pra fora. Às vezes quente, quente de mais. Às vezes fria, extremamente fria e sem cor. Se ela morresse alguém choraria sua falta?isso a incomodava. Porque não sei se isso acontece com todo mundo, mas às vezes ela perdia a vontade de viver. Ela era melancólica. Ela gostava de surpresas. Ela amava os dias gelados com quatro pés colados. Ela comia muito toda vez que não sabia mais o que fazer. Ela se salvava em livros. Ela sentia solidão. Nunca foi muito boa pra nada, outra coisa que à incomodava muito. Tinha febre.
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