Ela precisava dizer tanta coisa, mas ainda não sabia como. E todo aquele frio e tremor lhe corrompiam no pior de si. Antes de dormir ela chorava feito criança, porque no fundo sabia de tantos erros que havia cometido mesmo sem querer, e que não adiantava mais chorar por todos eles, porque aquilo já se tornava ela. O que mais doía eram as boas lembranças, e aquela certeza de poucos dias, que já estavam verdadeiramente se perdendo. O cheiro, o olhar de menino, o toque, a pele quente, as brincadeiras, as risadas, as conversas, os passeios e principalmente os silêncios, tudo lhe fazia arrepender-se de não ter sido melhor!Mais limpa, mais serena, mais calma, mais ouvidos. Sentiu-se tão egoísta na sua dor, que cortou alguns pedaços das memórias dependuradas em suas paredes, e mandou pelo correio à alguém que um dia tanto lhe amara. Tentando assim, compartilhar um pedaço daquelas lágrimas de monstro. Uma filha da puta da pior espécie, é!Uma filha da puta que escolhia remoer sozinha aquele câncer nos ossos. Foi então que saiu as 2 da madrugada caçando um carinho, e deitou-se com o primeiro mendigo de beira de estrada, uma puta!Uma puta da pior espécie. Gozou e depois chorou, mais lágrimas de sujeira e erro, mais lágrimas de perdição e arrependimento. Cheirou cocaína na noite seguinte, Transou com três caras estúpidos e imbecis, levou tapas na cara, foi roubada e quase que estuprada. Chorou então de nojo de si, de ódio de si, de raiva de si. Descobriu-se tão complexa e sem sentido, que lavou todo o corpo com sabonete de alecrim, depois acendeu uma vela e pediu a Deus um novo amor, um novo colo, um novo encontro. Pediu cheia de fé, e rezou três dias e três noites por ser uma filha da puta da pior espécie. Pediu também que Deus a perdoasse, que Deus entendesse todos os seus erros, desde então ela começou a conseguir dormir. Dormiu por 7 dias consecutivos, acordou magra, feia, acabada e novamente sem fé. Chorou mais uma vez, porque ela chorava muito, sempre!Tomou outro banho e saiu de casa, andou por 5 dias e 5 noites, desvairada, sufocada, desesperada. Nada aconteceu!Ela voltou pra casa e se olhou no espelho, se olhou no espelho por 3 horas consecutivas, e então descobriu que sua cara era branca, seus cabelos encaracolados, sua pele lisa e as orelhas proporcionais. Assustou-se com aquela imagem de uma mulher bonita, de uma mulher limpa, de uma mulher sincera. Passou então a levar espelhos, muitos espelhos, e quando aquela sensação terrível de “Uma grande filha da puta” lhe invadia a alma, ela passava alguns minutos olhando no espelho, pra se recompor.
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