De uma história de amor restam
vibradores e um gozo silencioso no fim da tarde. Os pequenos momentos voltam
como monstros enquanto fumamos um cigarro na varanda. É assim que se define o
amor, resquícios e lembranças. Nossas vidas caminham em silêncio, anestesiada
olho... não sei pra onde. Um amor por dia, uma paixão por horas e o sofrimento quase
alegre de sentir, preciso sentir, preciso sentir. Assim percebo que ainda tenho
vida. Guardei os vibradores e não fechei
os olhos depois de gozar, apenas acendi um cigarro, ouvindo as batidas do
relógio na parede senti a vida. Teto branco e uma chuva que não cessa. Os
passarinhos fazem amor no meu telhado, a fêmea cuida dos ovos enquanto eu mato
meus bebês. Assassinei o meu amor. Lúcida como um dragão, abandonei a casa com uma
mão coberta de sangue, na outra uma sacola onde carreguei os vibradores, as
fotos, a certeza e a dor. Segui ereta e constante, como quem escolhe um caminho
e não consegue (nem pode) se desviar dele.

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