domingo, 20 de maio de 2012

FRIO




A dias que tem feito muito frio, e com ele essa languidez e melancolia de um bom inverno. Se eu pudesse quebraria tudo, fecharia as cortinas e me trancafiava em casa. Compraria alguns maços de cigarros, uma sopa e passaria minhas noites lendo Amós oz e suas incansáveis cartas enredadas de amor. Passaria a manhã ouvindo Piaf, sentada na varanda, ao lado do meu alecrim e da minha guiné. Deixaria de lado a ansiedade que provém do futuro, existiria apenas, como uma eterna náusea que não cessa. Apagaria as lembranças que me fazem chorar tanto, aceitaria o convite do cara da noite passada e o amaria, profundamente. Mas não, não se estabelece a realidade pelos sonhos, uma vez ou outra sim, mas não constantemente. Não sei ser diferente, minha sinceridade me consome. Quem sou? Nem mesmo eu posso dizê-lo, mudo tanto que me apresso para acompanhar os vestígios que deixei cair. Meu amor imenso destrói meu fígado, meu amor imenso cansa minha alma,  por que eu não consigo simplesmente aceitar o menino lindo e delicado que disse “Eu te quero”? Porque não sinto amor, quando não sinto amor nada me move, nada me faz fingir o contrário, jogo as ilusões no lixo e meu coração determina o caminho contrário. Sofro de falta de racionalidade aguda, sofro no frio porque aqui dentro a fogueira luta sempre pra aquecer a vontade. Ou toca ou não toca!Ponto! Funciona assim: você se fode inteira, mas não deixa escapar a madrugada com a moça que lhe despertou amor na alma. Depois ela vai embora, como uma andarilha, e você dói por amor. Amanhã repete a sinopse do filme, e você se fode mais. Você começa a aceitar, não que seja “gostoso” ou “prazeroso” viver assim, mas você aceita.  O que sinto é maior que minha racionalidade em não sentir, não escondo de mim, não escondo de você, não escondo de ninguém. O que acontece? Você se fode pela milésima vez, e no frio é pior. 

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