A dias que tem feito muito frio,
e com ele essa languidez e melancolia de um bom inverno. Se eu pudesse
quebraria tudo, fecharia as cortinas e me trancafiava em casa. Compraria alguns
maços de cigarros, uma sopa e passaria minhas noites lendo Amós oz e suas incansáveis
cartas enredadas de amor. Passaria a manhã ouvindo Piaf, sentada na varanda, ao
lado do meu alecrim e da minha guiné. Deixaria de lado a ansiedade que provém
do futuro, existiria apenas, como uma eterna náusea que não cessa. Apagaria as
lembranças que me fazem chorar tanto, aceitaria o convite do cara da noite
passada e o amaria, profundamente. Mas não, não se estabelece a realidade pelos
sonhos, uma vez ou outra sim, mas não constantemente. Não sei ser diferente,
minha sinceridade me consome. Quem sou? Nem mesmo eu posso dizê-lo, mudo tanto
que me apresso para acompanhar os vestígios que deixei cair. Meu amor imenso destrói
meu fígado, meu amor imenso cansa minha alma, por que eu não consigo simplesmente aceitar o
menino lindo e delicado que disse “Eu te quero”? Porque não sinto amor, quando
não sinto amor nada me move, nada me faz fingir o contrário, jogo as ilusões no
lixo e meu coração determina o caminho contrário. Sofro de falta de
racionalidade aguda, sofro no frio porque aqui dentro a fogueira luta sempre
pra aquecer a vontade. Ou toca ou não toca!Ponto! Funciona assim: você se fode
inteira, mas não deixa escapar a madrugada com a moça que lhe despertou amor na
alma. Depois ela vai embora, como uma andarilha, e você dói por amor. Amanhã
repete a sinopse do filme, e você se fode mais. Você começa a aceitar, não que
seja “gostoso” ou “prazeroso” viver assim, mas você aceita. O que sinto é maior que minha racionalidade em
não sentir, não escondo de mim, não escondo de você, não escondo de ninguém. O
que acontece? Você se fode pela milésima vez, e no frio é pior.

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