sexta-feira, 15 de abril de 2011

Deus e o chuveiro


Ela estava errada. Não sabia que estar no banheiro significava reclusão. O banheiro representava para ela, sob qualquer estado de consciência, aquele momento de si mesma onde a vida escorria ralo abaixo, logo, não existia por alguns segundos ou existia de mais, o que tornava tudo involuntariamente um excesso. Deitada no azulejo frio nossa menina representava o que de melhor havia dentro dela, no silêncio hebefrênico sorria, ria, existia e contava com a sorte, o que é demência na situação em que “Ela” encontrava-se. O banheiro representava o momento da falta de raciocínio, sem conclusão, suspensão...Perigo eminente latejando em suas retinas, e a princesa continuava ali, rindo, sorrindo, existindo, esqueceu o corpo no chão, perdeu as roupas do lado de fora e a água fria do chuveiro já resfriava seus pés brancos e calejados. Na cabeça contava o momento de transtorno do dia anterior, o momento de decisão, o instante em que resolveu viver no banheiro.
Era dia claro, um pouco de calor na pele, solo quente, nuvens, e nossa menina andava, andava, andava e nada!Absolutamente nada acontecia, nada de extraordinário, nada digno de nota. Ela só não gostava, sentia dor, aperto, angústia, qualquer lugar era melhor que tudo aquilo, estava no inferno e só percebeu quando Deus apareceu diante dela com um copo de água fervendo, dizendo:
-         Aceita?
Ela não aceitava nada, não queria aquilo, estava calor!Afinal qual o motivo da água?Teve pânico, horror, medo, susto...Deixou de andar e começou a correr, pensava que era sonho, estava fervendo, tudo transbordava igual leite quente, correu horas até chegar em casa, ávida, exausta, cansada. Tirou a roupa e ponto. Comecemos nossa estória.
Há mocinha lépida e nua, em determinada hora da noite, utilizando-se da mão direita abriu o chuveiro.
Feliz e quente, morreu de hipotermia.

"Meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores.È necessário que eu tenha a modéstia de viver"

Nenhum comentário:

Postar um comentário