sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vestido Branco



Com seu novo vestido branco Estella paralisou frente ao espelho. O coração palpitava, a boca vermelha deixava escorrer o mais gostoso da saliva cansada. Ela era. No quarto fechado frente ao espelho ela se desnudava. Junto de si percebia o mais sincero que era ser. Arrepiava os pelos, suspirava feito menina pronta para a formatura. Uma moldura embelezando seu corpo envelhecido e marcado pelo tempo. Nesse dia ela não chorou, não que estivesse feliz, Estella simplesmente estava. Era. Aceitava de si a beleza mais pura, a felicidade mais cara. Permaneceu a madrugada toda dentro do vestido branco. Sentada na cama ela fumou vários cigarros e ouviu a mesma música. Não precisava de mais nada, aquele instante solitário bastava, ela estava com ela, ela desejava ela, Estella sentiu prazer em vê-la daquela maneira. Ver-se e aceitar o corpo velho dentro do novo vestido branco. O que são os dias?O que é o tempo?A vida se encarrega de colocar nas mãos novas etapas, novos presentes. O relógio corria. Amanheceu!Depois de voltar com o vestido para o armário Estella não se reconhecia mais. Escureceu-se mais uma vez sua pobre alma. Outra vez voltou a si, e não era mais aquele si desejável, não era mais aquele eu que tanto a preenchia por dentro como se preenchem os amantes quando se olham. Não! Lavou a louça e voltou pra casa, aquela mulher de vestido branco se trancou no armário, e nos corredores sujos e mal quistos Estella se embriagou da roupa de sempre, seu velho vestido rasgado, de um verde meio sujo, de uma gola meio acabada. Entrou no quarto e o espelho já não refletia, naquele momento ela chorou, chorou como se tivesse perdido a vida. Vezenquando, com fadiga de tanta morte, Estella abre o guarda-roupa e retira da sacola o vestido e passa a noite se amando.... mas infelizmente isso é só vezenquando.

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