Morreu alguma coisa na noite de ontem. Um céu perfeito, uma boa dose de vodka, alguns cigarros e a delicadeza do carinho afagando os cabelos e acalentando o coração. Sabe, tem horas que a gente joga pra cima, deixar escorrer das mãos os papeis picados e as flores que foram colhidas na primavera passada. A gente joga tudo pro ar e pede a Deus que cuide, que deixe passar, que traga bons ventos e leve embora pro mar.
O Rio de Janeiro tem sua poesia intrínseca nas calçadas, nos olhos das pessoas, nos arcos da Lapa, na história sendo carregada pelas paredes e sustentada pelos transeuntes que desfilam suas melancolias solitárias a base de samba e cachaça. Ontem eu joguei pro mar, deixei ir na leveza do amor que fica, um carinho de mãe, um cuidado humano pela imperfeição e desnorteamento que me causam pena. Um samba dolorido arrefecendo meu coração, deixei gravado um pedaço da minha história nessa cidade que me deu novos tempos, momentos, entendimentos. Entre os arcos da Lapa e o Beco dos ratos eu chorei e lavei a alma. Amei a melancolia daqueles seres humanos e das suas histórias, senti uma vontade imensa de seguir em frente, de sambar lentamente minha dor no ritmo do tempo que o amor escolhe. Sim, o que eu sinto é amor. Um amor leve e sincero, pela vontade de apertar a mão, pelo desejo de tocar a face com a ponta dos dedos, pela sinceridade de entender o fim. Que o Rio de Janeiro lave meus pés descalços com sua água salgada escorrendo pelas ruas apertadas e históricas, que fique de tudo isso a certeza da beleza que compõe o amor.
E quando, depois de um tempo, você sentir saudade dessa alma que tanto te amou, compre uma cachaça, escute um samba e caminhe silenciosamente pelos becos dessa cidade sem fim. Quem sabe em alguma calçada ou nos olhos desses seres perdidos que fazem do Rio sua poesia necessária, você encontre nossa história. E ai o céu vai estar tão limpo e sereno como ontem. E quem sabe, sambando com a cachaça na mão, você feche os olhos e sinta meus dedos quentes tocando seu rosto, e bem baixinho, entre a melodia do samba e a melancolia da Lapa, você me escute dizendo ao pé do ouvido: Eu amo você flor.
É, quem sabe...
Dia 25 de novembro de 2011.
Lindo!
ResponderExcluirsaudades de vc, Day!
bjoo!!
carlos