sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um transformar sem recomeço...

Indo pra cama. De uma forma ou de outra tenho me sustentado. Corpo inteiro e alma faminta. Faminta do desconhecido que bate minha porta. Nada se desfaz sem sua necessidade de existir, nada acontece sem nossa grande necessidade de reconhecimento e vivência. O que passa, segue na íntegra, o passado sustenta o presente. Meus olhos esvanecem-se no vento trazendo um novo corpo e uma solidão cheia de paz. Suporto o insuportável, dentro de mim um novo jardim começa a dar flores. Margaridas e orquídeas ocupando o mesmo espaço, o lixo se torna adubo, meu choro doce molha a folha das plantas, minha alma picada e novamente erguida ilumina esse espaço que me arrefece o espírito. Deus tocou minhas mãos, Deus se aproximou de mim. Deus e seu tecido de seda tecendo novas estradas e abrindo novos caminhos. Um Deus que sou eu e pela dor me pertence, pela alegria me é, pela vontade me fortalece. Portas abertas com sol, muito sol, me mostrando a poeira em cima dos móveis. Esses raios adentrando os quartos e a sala, iluminando a escuridão dos cantos, apresentando o envelhecimento dos costumes guardados. Cuido de tudo, com calma e delicadeza removo a poeira, troco a roupa de cama, pinto as paredes, me preparo para novos costumes e novas promessas. Rasgada pela imensidão de uma felicidade desconhecida, inchada de novos afazeres e desejos, inteiramente elevada pela exaltação do amor em mim, eu sigo. Sigo por Deus e por nós. Pela camada estreita renovando meus ossos, adentrando nesse oásis de uma gestação precoce, um aborto espontâneo, uma morte que resulta em vida, uma vida que alimenta e me transforma em Deus. Deus que vejo na poeira dos cantos, nos cantos das senhoras, nas senhoras dos adeuses, nos adeuses das esperas e finalmente nas esperas das paixões, dos novos amores, das novas trocas e desse amargo silêncio feliz que me renova. Deus. Eu. Um Deus-eu sem memória, imbuído de histórias/presente, presente do céu, presente em mim, em mim um presente de mim mesma.  Orquídeas e margaridas, violetas e begônias, rosas e cravos, flores, papéis, família, casa, corpos pelo caminho, diários, amigos...Meu Deus, respiro, meu pulmão se enche e se esvazia. Transformo. 

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