sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Uma coisa qualquer

Aos 9 anos foi quando decidi que derramaria, CONSTANTEMENTE, gelados, deliciosos e vermelhos sucos de morango na minha saia. Um domingo ensolarado. Saí de casa com meus sapatos vermelhos de salto alto, minha saia preta e uma blusa, velha e quente, com um enorme rasgado na manga, que ganhei de minha avó, já falecida, Dona Iraci. Gostava de sair de casa cedo, me dava sono aquela casa de paredes brancas cheia de monitores e tetos azul celeste.Descia a escada feliz, carregando na mão esquerda minhas moedas restantes do suco da semana passada.Era um domingo ensolarado, um domingo nublado, um domingo com chuva, tanto faz, podia nem ser domingo, o importante é que nada tinha importância, gostava de acordar e vestir minha saia preta e minha blusa velha, recolher as moedas do suco anterior e caminhar excitantemente para “A VENDA DOS SUCOS ESPECIAIS” podia ser que os sucos não fossem especiais e que a minha casa não me desse tanto sono assim, o que me importava eram os sapatos, a saia e a blusa velha.A blusa de tão velha pode ter perdido um pouquinho a importância, mas me restavam os sapatos e a saia.Sai de uma casa qualquer, em um dia qualquer, com um tempo qualquer,um sentimento qualquer, para tomar um suco qualquer, com algumas moedas do dia anterior...Não sei se são várias as moedas, talvez me restasse apenas uma única moeda brilhante de um real.Então saí de uma casa qualquer, em um dia qualquer, com um tempo qualquer, com uma moeda qualquer, coloquei meu sapato vermelho, minha saia preta e uma blusa qualquer...Os sapatos, o grande problema de tudo são os sapatos, não combinam com um dia qualquer.Saí de uma casa qualquer em um dia qualquer com um tempo qualquer ,um humor qualquer, com uma moeda qualquer, um sapato qualquer e uma saia, uma saia preta de renda, cheia de bolinhas de tanto bater na máquina de lavar roupa, a minha saia preta, cheia de lembranças, de acompanhamentos, desci as escadas e fui até a venda de um suco qualquer.Não dava para ser um suco qualquer, se não eu não teria saído de casa...Um suco de morango, um vermelho e delicioso suco de morango.Com minha saia preta cheia de bolinhas de máquina e com minha moeda qualquer pedi o meu suco vermelho e delicioso, meu suco de morango.Foi aí que tudo aconteceu, um homem qualquer esbarrou no meu vermelho e delicioso suco de morango, e ele caiu TODO E COMPLETAMENTE sobre minha saia cheia de bolinhas de máquina, infiltrando entre os fios, molhando toda minha calcinha e tocando entre as minhas pernas.Aquele gelado, delicioso e vermelho suco de morango, tocava toda minha saia, se infiltrava entre todos os meus fios e tocava entre todas as minhas pernas, entre todos os meus braços, todos os meus pés, todo o meu corpo.Aquele homem qualquer despertou em mim um prazer por uma coisa qualquer. Foi quando eu decidi.

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