Estranho, tem chovido aqui. Chovido muito. Estive doente, nessa imensa sala de recuperação os doutores cuidaram da minha saúde. Não sei se estou completamente curada, mas já me sinto mais forte. Devo ir embora no domingo, primeiro dia do ano e eu retorno pra minha vida de antes. Simbólico. Foram bons todos os silêncios e todo tédio. Ainda não consegui largar o cigarro, mas acredito que essa empreitada início depois. O que antes chamei de tédio agora entendo como paz, estive em paz durante todos esses dias, quando podia sair pra tomar um ar, corria para o parque e brincava com as crianças. Como são delicadas e leves, como elas me fazem um enorme bem. Quando subi no carrinho de supermercado e desci a rampa, rindo e escutando risadas, me curei de quase tudo, naquele instante entendi que meu lugar na terra faz parte de algo que me proponho para o outro. Paz!Não foi o álcool e muito menos qualquer tipo de entorpecente que me fez sentir a vida voltando, foram aquelas crianças, aquela inigualável e necessária insensatez. É, sou mesmo uma insensata, uma boba que carrega na alma um amor imenso por tudo. Quem disse que amar não dói?! Quem disse que a dor é ruim?! Que a dor não é necessária?! Que a doença não nos faz retornar mais fortes?!
Receitaram-me alguns comprimidos, dentre eles seguem: abraçar árvores, compreender o tédio, rezar, estudar, parar de fumar, beber menos, evitar qualquer tipo de droga, amar muito, ser doce e humilde, fazer exercícios físicos, chorar duas vezes por semana, escrever, ouvir, ouvir muito e perdoar. Perdoar é o mais difícil de engolir, mas venho tentando.
Simples essa chuva que não para. Estranho, aqui tem chovido todos os dias, mas quem disse que chover não lava?! Que secar não espera?! Que esperar não cura?!
Devo voltar pra casa no domingo, primeiro dia do ano, primeiro dia do mês. Simbólico. O mês do meu aniversário... 25 anos, estranho...
É, não para de chover... Me sinto mais forte, quase curada... Simbólico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário