Era em dias assim que ela compreendia um pouco mais a vida. Todos aqueles altos e baixos tiveram seus porquês, cada dia e todos seus milhares de encontros ácidos e sublimes. Definitivamente não se sabe a continuação desse filme melodramático, mas não continuar cada dia acreditando nas suas novas surpresas, não tem graça. Faz bem aquele que ainda espera o melhor. Um amor do outro lado da rua enche de perfume essa casa, os antigos guardam de poeira a história dos móveis, aqueles que ainda virão preenchem as lacunas nas paredes brancas. Nossas vidas não possuem em si um verdadeiro sentido, os sentimentos sim, esses são nossas buscas essenciais. Aqueles que são levados pelo lado de dentro e deixam-se guiar pelo fabuloso destino do inesperado, bebendo o caldo doce de algumas melancolias, poucas tristezas e o gozo de uma certeza em miniaturas de momentos divinos, esses gozam da eternidade. Que delicia sabermo-nos mortais, sem isso não existiria o mistério que envolve o depois. Talvez, quando bate na estrutura dura que ainda forma meu corpo, um peso desconhecido e uma falta que chega a doer o osso, talvez seja ai, que desejando a morte eu deseje também a eternidade do paraíso que somos nós. A não-morte do que acredito em mim e suspiro dos outros, o não bastar das agonias constantes que me fazem flertar com o inferno e dentro dele, queimando de incertezas, encontrar os lábios de Deus, tudo isso é minha não-vida fazendo-se a melhor de todas que já gozei. Correndo de fórmulas, contratos e concursos, ainda sou a melhor mestra do meu caminho, deixando-me guiar pelos instintos ferinos, felinos, selvagens, divinos e humanos , trilho a estrada de traz, o beco sem volta, a caverna da luz. Plantando mais amor e de tanto amor transbordando de amor que me faz ainda ser do amor a seguidora mais fiel e apaixonada do amor transfigurando em todo amor tudo que parece dor. Ando pelos dias recitando poemas de amor e insinuando o posto da Amante do amor que tanto preenche essa carne falida e sofrida de amor de mais, febre de mais, desejo de mais, vontades de mais, sonhos de mais, utopias de mais, sensibilidade de mais. Não sou a melhor e nunca serei, já me basta aquela mão fraca e o olhar perdido que encontrei naquele outro e naquela outra tantas vezes marcada pelo ferrete no centro da alma. Minhas lembranças são inoxidáveis, sem oxigênio não sobrevivo além de dois minutos fora do tanque maciço coberto de velhas escamas de velhos pestilentos e putas de carteira assinada. Nunca deixei de sair acompanhada, a tristeza ou a esperança são minhas prostitutas de luxo, com as quais gasto e desgasto o desgosto de desgostar tanto desse gosto amargo que teima em me queimar os lábios. Troquei os órgãos pelo “organum”, deixei escorrendo nas escadas meu “delirare” quase constante e travei no rabo a cauda de um Hipocampo. Dionísio é meu pai e Perséfone minha mãe. Não sou de cima nem de baixo. Não pertenço a canto nenhum. Não sou andarilha e muito menos uma casada de filhos nos braços. Intolerante, egoísta e desajeitada. Um pouco de cada coisa que um dia fui e nessa vida optei em ser mais. Durmo agarrada ao travesseiro, quando não acordo debruçada sobre um amor... É, ainda tenho no peito um dinossauro exilado, mordendo meus seios e arrancando de garras afiadas o que eu não poderia ser de verdade. Passando os dias, o que sei, é que ainda sou.
maravilhoso!
ResponderExcluirLindo!!!!Lindo!!!
ResponderExcluirQue vontade incontrolavel
de dança o amor!!!
Sentimento da leitura!!
led.